GUERRILHEIRA DO AMOR

Estranhos tempos estes em que estamos na nave Terra. Nesta distopia inimaginável, rodopiamos em espiral, resgatando aquilo já identificado por nossos antepassados como abominável. Recolhemos no lixo da história justamente o que deve ser descartado pelo quão maléfico é a sua continuidade para a nossa sobrevivência: xenofobia, violência, exploração, uso abusivo dos recursos naturais, indiferença, intolerância, ódio... Humanos valores agonizam numa ciranda sem fim.

Era impensável imaginar, há bem pouco tempo, uma reascensão do Partido Nazista na Alemanha. A vergonha histórica do holocausto pesava nas costas de cada cidadão como dívida eterna com a humanidade. Para alguns, agora já não é bem assim... O mundo está esquisito... Tiranos são admirados justamente pelo discurso de exclusão que latem aos quatro ventos.

Girando freneticamente, notícias ocas criam uma falsa rede onde nada se sustenta além da imagem. E é em função dela que, loucamente, pessoas tentam se enquadrar em padrões de beleza tão inatingíveis quanto mutáveis. É um suicídio do corpo e da alma, que vai se perdendo em cinzas decantadas em lágrimas no silencioso e escuro lago da solidão. Solidão absoluta quando a fuga é de si mesmo.

A maior luta que estamos travando nesta última década é aquela que armas não resolvem, pois o inimigo mora em cada um de nós. Só será possível sobreviver após uma investigação profunda e posterior remoção do lixo que o capital nos impôs. E é muito! Quanto maior o ego, maior a quantidade de lixo. Depois disso, mais leves, poderemos fazer o caminho de volta, na mais difícil e fascinante estrada que existe: a que leva ao coração do outro.

Na batalha do amor, é absolutamente necessário explodir as trincheiras de corações blindados. De vez em quando, é preciso seduzir o inimigo, num breve descanso e descuido, com cantigas de ninar. É preciso disparar canhões de flores, espalhar minas de amores: mensagens de luz ao vento, sinalizando a estrada da paz.

É na redescoberta de pequenos e gratuitos gestos compartilhados que o mundo se harmoniza. Não sou pessimista e sinto a necessidade de espalhar a notícia de que muitas pessoas já acabaram a faxina e caminham leves, de pés descalços e mãos dadas, à procura do retorno.

Stella Motta
Enviado por Stella Motta em 18/09/2018
Reeditado em 18/09/2018
Código do texto: T6452720
Classificação de conteúdo: seguro