Quando comi a primavera
Não é dia de maior sol, mas está bom. Caturritas nas palmeiras, a avenida atrolhada de carros e a necessidade de ficar comigo, "quero a vida bem assim...". Hoje, 17, dia de buzinaço, ainda não sei se faço barulho ou não, talvez seja "muito barulho por nada", afinal, são todos farinha do mesmo saco, bizarro... Precisei sair, tinha urgência, nestes dias não meço nada, vou atropelando a vida, uma breve compulsão me ataca, vem sempre nestes dias cinzas, geralmente aos dezenove graus ou quando chove, ninguém me trava, então me divirto com estes meus pequenos "luxos", feliz, com meu jeans e botas bem gastos. Comprei um livro para o Garcia, lembrei do disco do Borghetti que não levei, ainda está aqui. Preciso ir ao correio, preciso ver todo o mar, preciso, urgentemente, ouvir "Tua cantiga". Depois, o almoço, sempre na observação dos que passam nas suas sanhas do consumir. A garçonete tem a voz estridente com leve sotaque alemão, fiquei irritada. Enquanto espero a comida, leio Quintana e não seguro a vontade de chorar, como há poesia no poeta, ele nunca morre. Arroz, um bifinho, salada verde com flor. Leio e me deixo verter. Engulo as pétalas violetas da salada e quase me afogo no gole de Coca. No guardanapo deixei minhas marcas, o resto do batom e o meu choro, com a sensação - real - de ter comido a primavera.
B a t