Assim ou ... nem tanto. 153
Como se fosse de bronze.
Imperceptivel, um fio sustenta o insustentável. E o homem de bronze, equilibrando-se numa roda precária, sem defesa na sua nudez integral, tenta ser o pássaro que o tornaria diferente, tenta andar sobre uma roda que recusa o caminho. Para sermos outros e melhores, sem possibilidade de voo ou de equilíbrio, de rodar sobre rodas que se prendem ao chão e se recusam a rodar mas insistem na sua circularidade, para sermos melhores, repito, importa que a carne, o sangue, o espírito e a pele, façam o pássaro que, sem ser, nos eleve até ao mirante das águias, até onde, em dias de sol, se vê o outro lado do mundo. O mesmo que, do alto da penha mais alta se não vê pressente, adivinha, lê o interior cifrado que escondemos. Nem sempre se vê bem com os olhos, digo eu, invejoso da perfeição de quem vê tudo. Muitos de nós, cegos embora, conhecemos o que há para conhecer nos abismos em que habitam os solitários, lá onde os caídos só adivinham a luz e aprendem a perceber bonito o fundo irregular do limbo. Todos os que estão caíram. Alguns, recuperadas as asas, andam em círculos e chocam na rocha abrupta e voltam a cair. Quantos pássaros rastejam, quantos recusam a dor de voar? A verdade é que não bastam asas, não chegam vontades, é insuficiente sentir e amar. O importante é saber. Saber de fogo, terra, água e ar. O importante, disse quem desistiu, é ser pedra.