Salve a família tradicional

Mas o que é a família tradicional? Como ela se organiza? Qual a canonização que não pode ser maculada?

Estas são algumas de muitas perguntas que ando fazendo a mim. Não sei se uma pergunta de retrocesso, já que existe outro tantos conceitos de famílias, de acordo com sua organização, formação ou laços afetivos.

A família tradicional foi perpetuada ao longo da história: as mulheres nasciam, consideradas prejuízos, eram prometidas em casamento mediante um dote. O homem teria um fardo para ser carregado ao longo da vida, mas, como havia recebido o pagamento anteriormente, aceitava calado, desde que o produto da compra ou troca respondesse aos seus anseios.

Nenhum podia reclamar, apenas aceitar ser o fardo e rezar para que tivesse a dádiva de aprender a amar seu senhor e ser feliz para sempre. Essas piedosas mulheres se submetiam a cuidar da casa, do marido e dos filhos. Não tinha vontade, voz ou poder de decisão.

Os homens, construtores das famílias tradicionais, muitas vezes não se contentavam com a mercadoria de casa. Esta era para a reprodução, as mais adocicadas das casas de diversão era para o prazer, daí o surgimento dos "bastardos" ou "filhos de moita".

O reordenamento da sociedade, a transposição do rural para o urbano, as novas demandas socioeconômicas, políticas e sociais foram agregando outros valores e muitas mudanças nessas concepções de convivência familiar.

As mulheres passaram a ser cogitadas, os dotes foram caindo em desuso, as relações foram se construindo e se desconstruindo de acordo com as necessidades e feições dos sujeitos envolvidos.

Veio a revolução industrial, a evolução da tecnologia, as guerras mundiais, a atuação das mulheres nas escolas e mercado de trabalho(...)

Veio o casamento civil e o divórcio! Aquilo que o homem juntava, poderia ser separado.

Ao longo do tempo, o tradicional foi modificado seus status, sua condição e forma de ser concebida.

As mães solteiras e as mulheres separadas tiveram permissão para permanecer ou voltar para casa. Os avós maternos passaram a criar os netos para que as mulheres pudessem contrair novas núpcias ou fossem integradas ao mercado de trabalho.

Quantas reviravoltas! Quantas mudanças na vida social: rádio, telefone, cinema, televisão, máquina de datilografia, computador... Redes sociais.

Quem conseguiria barrar o progresso e as transformações do tempo?

Pelo tempo, várias situações: homens e mulheres buscando elos afetivos de vários formatos, com vários paradigmas, para os vários enfrentamentos.

Seria o modelo familiar inabalável?

Diante de tanta facilitação; diante de tantos eixos norteadores, os conceitos tradicionais deveriam ser perpetuados? Como?

Mas até a religião mudou!(...)

Na atualidade é possível falar de famílias, não de família; De modelos, não de modelo; De concepções, não de concepção. Tudo é plural e diverso.

A pós-modernidade não apresenta o fim do modelo tradicional de família, mas a inovação desses modelos com a finalidade das adaptações e adequações dos novos grupos que se formam por afinidade.

São famílias formadas por mãe, pai e filho; Avó, mãe e netos; pai, pai e filhos; mãe, mãe e filhos (...) Os modelos são os mais diversos.

Não se pode querer, por preconceito ou intolerância, desmerecer e destruir o que se constrói por necessidade cultural e por afinidade de convivência.

As famílias homoafetivas são, muitas vezes, ressignificadas pelas famílias heteronormativas que não deram certo. Homossexuais se unem em casamento, moram juntos e adotam crianças frutos de relações fracassadas heterossexuais.

Muitos comentários são descabidos, desnecessários, intolerantes. Muitos reproduzem discursos pseudomoralistas, de sujeitos que não têm disponibilidade de construir uma sociedade mais justa e respeitosa.

Marcus Vinicius