GRANDE MULHER
Os passarinhos cantavam hoje pela manhã, muito mais que nos outros dias. Seus trinados misturavam-se aos hinos e à pregação. As vozes do coral também preenchiam a igreja dos passarinhos e ali nada mais, que houvesse no lado de fora, interessava. Era momento de reconhecimento e de gratidão. Tirando os cânticos e a Palavra que nos chegavam aos ouvidos, tudo era atenção em preces aladas, voando de cada peito... ao Alto.
Dirigi meu corpo a um lado do templo e vi o entristecido olhar de Maria, Nossa Senhora das Dores. Quando fixei meus olhos naquele olhar, senti estremecer-me o coração e minha alma também voou para as sete grandes dores daquela Mãe. Chorei ao ouvir o coral entoando o Hino a Nossa Senhora das Dores, lágrimas discretas de total reconhecimento a uma santa mulher.
Em minha casa, volto o pensamento àquele meigo e sofrido olhar, sinto incontrolável vontade de falar sobre Maria.
Neste período da história universal, em que se evidenciam a força da mulher e o destaque feminino na evolução do universo, ocorre-me discorrer sobre algumas figuras femininas, que foram destaques nas diversas áreas da evolução humana.
Começo por Maria, mãe de Jesus. Não gosto do clichê, mas piso no meu gostar e dou a mão à palmatória dizendo que Maria foi “mulher à frente do seu tempo”. Como poderia eu prescindir destas surradas palavras, especificamente neste caso? Ela foi inovadora e corajosa, tão jovem aceitou e acatou a comunicação sobre sua gravidez. Observemos, com olhar histórico, que não se fala aqui de algo de ontem, tampouco de poucos séculos passados. É fato histórico ocorrido há mais de dois mil anos. Naquele tempo, como se explicaria uma jovem virgem, que ainda morava sob o teto dos pais, dizendo ao noivo que um anjo lhe aparecera e anunciara uma gravidez totalmente incomum? Em tão longínquos tempos, como convencer José e os moradores de Nazaré que engravidara do Espírito Santo e não de outro homem?
São questionamentos e problemas de difícil solução para qualquer mulher, em qualquer época, até mesmo hoje o seria. Maria, porém, não se intimidou e não se negou ao excelso ato dela exigido, mesmo sob o risco de ser apedrejada, conforme sentenciava a lei judaica. Tampouco vacilou, (vemos em Lucas) quando ela e José, após circuncidarem o menino e o apresentarem ao templo de Jerusalém, ouviram de Simeão a assustadora profecia “uma espada transpassará tua alma!” e, destemida, entregou-se totalmente à missão de mãe.
Não se importou com questionamentos sobre sua virgindade, a mulher que posteriormente exerceu fundamental influência junto ao filho, intercedendo por seus primeiros milagres.
Vida pontuada por sofrimentos e vicissitudes, Maria presenciou a execução da sentença de morte de seu filho, conforme nos informa o Evangelho de João.
O dia 15 de setembro é dedicado à meditação e ao respeito à dor da mãe de Jesus, é dia de Nossa Senhora das Dores.
A igreja que oficialmente leva seu nome, nesta Curitiba, é também chamada de Igreja dos Passarinhos. E hoje eles, os pássaros, cantaram mais do que nunca. Lindo coral do Criador, em agradecimento à coragem e à grandeza daquela Mulher, da qual tenho alegria de dizer, sem receio, à frente do seu tempo.
Dalva Molina Mansano
Fontes de pesquisa:
Bíblia Sagrada
Maria (Rodrigo Alvarez)