Xeque-mate: Biscuit, Haddad e Bolsonaro

Estão ficando acirradas as reuniões e encontros de amigos. Tudo por causa do transe gerado pela política. As pessoas estão ficando muito excitadas, discutindo demais e, não raro, aos gritos. Amigos de uma vida inteira estãose estranhando. Isso é natural? Em princípio é, faz parte do ônus que temos que pagar pela democracia. Infelizmente. Só que não era prreciso tanta raiva e excitação. Acho que não era nem preciso as fantasias, bonés, bandeiras... Nem os gritos de guerra, os bordões,os slogans. Não preciso, sejamos francos, nenhua provocação.

Pessoalmente não boto camisa de nenhu partido ou candidato, nem adesivo, nem botom, nem agito bandeira. Ne tampouco distribuo santinho ou panfleto. É claro que tenho minhas preferências, minha deologia. Mas também tenho meus amigos que énsam diferente e eu respeito. É o caso de um mecânico do sertão que e eetior do cabo Daciolo, esse caa é evangélico, amigo de verdade. Nunca tentei desviar o voto dele, nem critiquei, não levei na gozação comooutros fazem. A maioria dos amigos diz que eu não critico porque o cara sempre que vem ao Recife traz para mim uma manta de carne de sol e um queijo de coalho,além de um litro de mel de uruçu. São linguarudos, eles sabem que eu respeito aquele amigo.

Mas hoje fiquei meio assustado. Fui ao Mercado da Encruzilhada encontrar os amigos, todo sábado nos encontramos. uando cheguei estava aquele tendel. Tinha uns quinze, homens e mulheres e até crianças. E tome bode guizado, sarapatel,buchadinha, pirão, cabidela e, caro, cachaça e cerveja. Obtive habeas corpus para tomar uma seis lapadas e provar um pires de sarapatel. Só que a zoada era muito grande. Todos falando ao mesmo tempo e discutindo a danada da política. Discussão política ja é chata imaginem aos gritos. Masa coisa foi ficando quente e radicalizou entre um fã incondicional de Bolsonaro, um sujeito muito forte, muito esquentado, pavio curto (mas gente muito boa), e um baixinho petista, um cara calmo mas que ousou questionar o esquentado. Prestou não, o cara começou a surtar e a gritar, berrando, que Bolsonaro ia botar o Brasil em ordem, prnder os subversivos, cortaro barato dos artistas comunistas, acabar com essa merda dopoiticamente correto, cortaras quotas de negros, acabar a farra do Bolsa Família e mandar metralhar os bandidos... O baixinho quis fazer o tal contraditório. Mas o esquentado nao deixou e começou repetir: - Bolsanaro éum mito! Mito! Mito! Mito! Vai sakvar o Brasil. Ficou completamente fora de si. Fiquei na minha,sou amigo do sujeito há mais de 40 anos, os outros ficaram calados, acho que assustados, não fiquei assustado, mas com pena do cara, do papelão. O danado é que ele estava surtando com o netinho de uns cinco ou seis anos no colo. O menininho estava quase chorando assutadinho.

Foi ai, olha o aí, que uma amiga, uma pessoa muito meiga, suave, terna, querida por todo mundo (é dessas que vai a hispital ajudar doentes que nao têm famíia), é dessas pessoas que são boas que dói.Parece frágil, com a idade ficou andando com uma bengala, mas não é frágil coisa nenhuma, é uma lutadora.O apelido dela é Biscuit. Ela em meioàquele surto e o posterior silêncio constrangedor, pegou o menino neto do esquentado fã do Bolsonaro e botou no próprio colo e ficou acariciando o cabeo do menino, acalmando-o, depois de algum tempo ela séria se dirigiu ao esquentado:

- Cabra véio, eu te conheço desde criança, sei que sua maior virtude é a franqueza e a sinceridade e que o pior e você é o pavio curto e a intolerância, Vou te fazer uma pergunta e você vai me responder com sinceridade, se mentir nossa relação acaba. Escute, eu sei que você aaeste seu neto (alisando o menininho) mais que tudo no mundo, do qual sou madrinha, me diga quando ele crescer você quer que ele se torne um cidadão ordeiro, pacífico, educado, tranquilo, competente, professor brilhante e pessoa que só transmite bons fluídos às pessoas, o professor Haddad, ou prefere que seu netinho seja um sujeitoque nem Bolsonaro que prega a violência, a intolerância, que não respeita os direitos das minorias, os avansços sociais, que gera o ódio e a intolerância, inclusive desejou que a ex-presidenta Dilma moresse infartada ou de câncer, que prega o uso da violência como meio de se pacificar o país, vá ao Google Wikepédiae anaise a carreira dele como militar e como congressista mediocredo baixo clero. Vamos responda se quer que seu neto sejaou cidadao como o professor Haddad ou um Bolsonaro, responda u fique calado, dá no mesmo.

O sujeito fiou calado, sossegou a periquita, os olhos marejaram, deu umatossida, então aproveitei para virar o disco e me vali doassunto Neymar, souo unico que acredita na redenção desse sujeito, a comearam a me pichar, e tdo voltou ao normal. Biscuit com sua suavidade e firmeza deu um xeque-mate e umalição no esquentado.

No final ele me trouxe no seu carro, o menininhodmindo na cadeirinha. Na porta do meu prédioele me perguntou: - Será que Biscuit ficou com raiva de mim? Respondi que não, ela não tinha raiva de ninguém e era comadre dele. Ele ainda perguntou: - Bicho,eu nao sabia que ela era petista eiavotar em Haddad. Ri e disse a ele: - Não ela não é petista e nem vai votar em Haddad, mas em Ciro.

Nao sei, mas acho que o cara ficou mexido, ele vai olhar a ficha de Bolsonaro no Wikepédia, talvez mude parao cabo Duciolo, no PT ee não vota de eito nenhum. O amniente esta ficando quente. Felizmente ainda existem pessoas como Biscuit. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 15/09/2018
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