Outro Olhar
Ao vê-la saudei a infância com lapsos de mil lembranças. Abracei-a, me contive para não chorar quando deparei-me com um retrato do meu passado, presente e futuro.
Convivi com ela até início da adolescência, depois a vida nos afastou. Durante a minha fase adulta bem pouco nós vimos e fomos nos afastando lentamente na luta pela sobrevivência. Como adulta, sua existência parece ter parado no tempo; a minha caminhou por curvas, caminhos, subidas e descidas de alguém decidida a não cair, na medida do possível, na mediocridade absoluta dos que não buscam opções. Segui em frente na ousadia jovem dos que procuram se diferenciar da mesmice que a pobreza oferece e ela estacionou, em algum momento, à espera da vida que, atarefada, a esqueceu.
O tempo, esse vândalo destruidor de certezas, mói e remói tudo o que passa por ele. Na minha memória, o passado, o presente e o futuro ganharam cores fortes, impressas no coração como tatuagem e nunca havia me visto tão viva e presente em outra pessoa como me vi naquele dia.
A idade me deu outro olhar sobre ela.
Rememorando a meninice, reencontrando pessoas e recebendo informações sobre tantas outras, consegui, em meio a conversas mil, rever situações, analisar e encontrar muitas respostas. Olhei as duas, mas me encontrei apenas em uma. São as únicas tias ainda vivas e à medida que envelheço a família diminui. Uma delas nem me reconhece mais, sequer recorda que é irmã do meu pai. A outra, essa com quem me pareço, aos noventa anos, segue lúcida, firme e forte. Tomara que nossa semelhança continue por aí também. Espero poder voltar a vê-la mais vezes e novamente empreender viagens a épocas e lugares que até então estavam quase adormecendo na memória, travando mais um surpreendente encontro comigo mesma, de entendimento e reflexão que nos faz tão bem.
Ao vê-la saudei a infância com lapsos de mil lembranças. Abracei-a, me contive para não chorar quando deparei-me com um retrato do meu passado, presente e futuro.
Convivi com ela até início da adolescência, depois a vida nos afastou. Durante a minha fase adulta bem pouco nós vimos e fomos nos afastando lentamente na luta pela sobrevivência. Como adulta, sua existência parece ter parado no tempo; a minha caminhou por curvas, caminhos, subidas e descidas de alguém decidida a não cair, na medida do possível, na mediocridade absoluta dos que não buscam opções. Segui em frente na ousadia jovem dos que procuram se diferenciar da mesmice que a pobreza oferece e ela estacionou, em algum momento, à espera da vida que, atarefada, a esqueceu.
O tempo, esse vândalo destruidor de certezas, mói e remói tudo o que passa por ele. Na minha memória, o passado, o presente e o futuro ganharam cores fortes, impressas no coração como tatuagem e nunca havia me visto tão viva e presente em outra pessoa como me vi naquele dia.
A idade me deu outro olhar sobre ela.
Rememorando a meninice, reencontrando pessoas e recebendo informações sobre tantas outras, consegui, em meio a conversas mil, rever situações, analisar e encontrar muitas respostas. Olhei as duas, mas me encontrei apenas em uma. São as únicas tias ainda vivas e à medida que envelheço a família diminui. Uma delas nem me reconhece mais, sequer recorda que é irmã do meu pai. A outra, essa com quem me pareço, aos noventa anos, segue lúcida, firme e forte. Tomara que nossa semelhança continue por aí também. Espero poder voltar a vê-la mais vezes e novamente empreender viagens a épocas e lugares que até então estavam quase adormecendo na memória, travando mais um surpreendente encontro comigo mesma, de entendimento e reflexão que nos faz tão bem.