Bipolar

Tão confusa que  ficava em dúvida quando passava rapidamente pelo espelho, as vezes voltava uns passos e encarava o reflexo, buscava uma pista da "persona" que seu corpo carregava naquele instante.

Poderia ser altiva, determinada e direta ao ponto, com opiniões exageradas  que desconcertava os menos atentos, ou simplesmente uma mulher comum, tímida e retraída, de pouca fala e muita observação, acomodada numa história sem muitas ou quase nenhuma mudança.

Boca seca, dor de cabeça e longos espasmos musculares, foi assim aquela madrugada, levantou com dificuldade, um tanto desorientada, cambaleante e se perguntando quem era e o que havia feito para merecer tanto desconforto.

Encontrou o celular quase sem carga, percebeu que haviam algumas mensagens, mas uma em especial chamou sua atenção, não reconhecia o remetente, que usava um linguajar obsceno e demonstrava intimidade, sentiu medo, tentou lembrar que dia era ou o que havia feito, e nada de concreto lhe ocorria, identificou os sintomas e já sabia ao menos o que estava vivendo naquele momento, era uma crise de amnésia anterógrada, lembrava de ter participado de uma reunião de trabalho e de tomar sua medicação saboreando calmamente um suco de frutas, o que ocorreu depois era um vazio completo, da mesma forma que não sabia quem era o estranho a tratá-la com tamanha intimidade.

O pânico  foi tomando conta do seu corpo, parou diante do espelho e perguntou: - Quem é você?

Permaneceu ali, observando, buscando pistas, tentando identificar o tamanho do estrago causado por uma de suas personalidades, e qual a proporção do incêndio que precisaria apagar.
Renata Rimet
Enviado por Renata Rimet em 13/09/2018
Reeditado em 14/09/2018
Código do texto: T6448015
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