Bem pertinho do Céu

BEM PERTINHO DO CÉU

O Cave, ah o Cave, aquele lugar que cantou e encantou muita gente: de Bráulio Tavares ao baixinho pipoqueiro, de Elba Ramalho a Pneu (folclórico universitário da cidade conhecido por suas danças e mogangas) , de Cida Lobo a Geraldo Pinto e Emerson Uray, que com sua “Musca” viravam madrugadas, do Delito a Jorge Mahal, da guerra de bolo nas comemorações do aniversário da Negrita as fotos dos “Fragmentos” da feira de Roberto Coura estampados em suas paredes, enfim, foram tantas personalidades, entidades e obras de arte que passaram pelas portas daquela residência/bar, que passaria a eternidade listando nomes.

O Cave sempre, desde o seu nascimento, teve ares celestiais, pois, começou a alçar seus voos no aeroporto João Suassuna, onde tinha uma linda vista para a pista de pouso. Decolou para sua notória ascensão para a rua Paulo de Frontin, permanecendo por muito tempo como o point dos universitários, artistas, intelectuais e anônimos da cidade. Se desfrutava dos prazeres das mais diversas artes: de desfiles de moda e chapéus a exposições de telas e esculturas, de shows de rock ao forró do Cave, onde no primeiro ano de forró na madrugada, lançou os 3 de Campina (trio de forró pé de serra) e já se tornara tradição entre os “festejastes” juninos de sono inabalável, pois, começava o remelexo as duas da madrugada, era realmente de tirar o sono. O som era ruim, mas a música era boa.

Aquilo era o céu, ou muito próximo ao céu, digo o céu do supremo, não o Céu dos estudantes universitários que bem de frente fazia sua morada. Era muito bom, como se estivéssemos realmente num céu, um lugar de alegria, músicas divinas, pessoas do bem e comidas dos deuses. Seu céu, o do Cave, ou seu teto, como queiram, era revestido de treliça de madeira com luzes por cima que refletiam e sombreavam um verdadeiro tabuleiro de xadrez em seu piso e paredes, os homens sentiam-se como reis, as mulheres rainhas e o bispo que celebrava missas importantes no São Vicente vez em quando frequentava para se deliciar com as pizzas de atum e milho verde. O jardim do Cave também tinha seu encanto, enquanto canta do canto da sala principal a atração da noite, as pessoas se refrescam com a brisa da orla campinense. Anões de jardim não haviam, apenas o saudoso Beto anão que se sentava sempre na segunda mesa do lado esquerdo do jardim, que visualizava sem nenhum obstáculo o palco no interior da sala principal.

Era um palco de quina e bem pequeno para a grandeza dos artistas, grandeza essa que enchia não só o palco, como também os ouvidos e a alma dos “Caveanos” se assim podemos chamar seus frequentadores. Em uma ocasião, este modesto aprendiz que vos escreve, tocava sua bateria numa noite de sábado, quando para desespero do público e alegria do baterista, a energia acabou. Como meu instrumento é acústico, e numa intuição de percussionista, fiz por cerca de três ou quatro minutos um improviso solo naquele curto intervalo até reestabelecerem a energia. Foi um momento lindo, pelo menos para meu ego, mas francamente, acho que o público também gostou, menos Carlinhos e seu Zé de Souza, pois, o barulho do solo com a gritaria das pessoas naquele inusitado momento, fez com que seu Zé, o vizinho, viesse reclamar da algazarra ameaçando chamar a polícia, foi um Deus nos acuda, mas tudo resolvido pacificamente, não foi ninguém preso, nem para o inferno, Céu ou Maria Fumaça.

Carlinhos sempre muito solicito e simpático, chegava para administrar a noitada abordo do seu Opalão um pouco depois de Láu, seu fiel garçom/gerente que já atendia algumas figuras. Parava, sentava-se um pouco, acendia um Hollywood, conversava com seus clientes/amigos e dirigia se para seu escritório, onde havia além do birô um vídeo game para ele e alguns clientes Vips, a noite estava apenas começando. O ambiente era cálido, esfumaçado e lindo, era uma casa que havia sido adaptada para ser um bar, de modo que as paredes entre os cômodos haviam imensos rasgos para integrar todos os ambientes, que invariavelmente ficavam lotados acomodando as trupes. Na sala principal ficava o mine palco e não haviam mesas ali, pois, quando a banda começava a tocar aquilo virava um inferninho. Se faziam presentes: Claudecir, mais conhecida como Lua, Xênia Hiluey, Arly Arnaud, Sandra Capozzoli e Telma do Ó; Gera Brito, Pepysho Netto, Gilmar Albuquerque e Tania Régia; Capilé, Dedê, Dudu, Delú e Eugenio Felipe; Moisés com o Albatroz, Fidélia Cassandra e Cassandra Veras com amigos; Paulo Marcio, Fredão, Mosca e Shampoo; Sereco, Bentevi e os T. Rex, Ranulfo Cardoso e o pessoal do Gavi; Pantera, Noaldo Ribeiro e Noaldo Nery. Por vezes alguns artistas de renome nacional que faziam shows pela cidade acabavam a noite no Cave, também artistas plásticos como: Pombo, Montanha, Labas, Lálo e Barroso com Ângela Cirne e suas cerâmicas e ainda Romão Mineiro; Fabiano Laboremus e Saulinho Miná, Chicão de Bodocongó e Prof. Brito de matemática; o Anjo, que era vizinho não faltava com seu irmão Boba e Rúbia, Epitácio Soares e Tonhão pra fazer a cabeça da galera, Bateria, Calango, Bacurau e Rui do Charriot com seu irmão Fernando Gringo, a turma de moto: Fábio Rolim, Vando Quexim, Xanduca e Xanadu. Por fim, eram tantas personalidades que me desculpem os que esqueci.

Pois é meus amigos... Uma casa como o Cave Pizza talvez jamais frequentaremos novamente, os tempos são outros, as pessoas são outras, a cultura dos bares e a música são outras, vivemos num “inferno” e talvez, e só talvez no Jardim Teatro Maria Arly ou lá no céu do divino voltaremos a nos alegrar como outrora com os queridos amigos do CAVE PIZZA e de Carlinhos do Cave.

Maerson Meira. 12/09/2018.

MAERSON MEIRA
Enviado por MAERSON MEIRA em 13/09/2018
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