Cescer
Quando era pequeno, eu sempre quis pensar o que seria ser gente grande. Uma expressão tão pequena, mas de tanta e tamanha importância para a vida de um adulto.
Sonhava com um planeta muito limpo, onde se podia beber água limpa no grande e vultuoso rio. Poderia nadar em lagos de águas claras e até mesmo comer peixe pescado em rios de capitais.
Olharia para o alto e veria uma luz mais ampla, sem poluição. O ar seria o mais puro, aquele que se sente dentro de uma mata. Um ar puro, úmido, com um sabor de seivas florestais. Porém, nas grandes cidades, o pulmão pouco consegue respirar as grandes toneladas de fumaças, de cheiros de enxofre e outros frutos da poluição desenfreada.
Que bom seria se pudesse passear sossegado pelas ruas, vestido de uma bela roupa, calçado com um par de tênis importado, segurando um celular. Também percorrer uma capital a bordo de uma linda motocicleta, uma máquina importada; até mesmo dirigir um veículo importado, com as janelas abertas. Hoje, porém, este sonho se torna impossível, pois a violência, as leis e até mesmo a impunidade fazem com que se torne recluso em sua própria casa.
O melhor seria fazer uma serena para a amada, em noite de lua cheia, bem próximo ao portão, pois é mais uma ilusão, porque ao aproximar de uma residência, alguns seguranças podem confundir com ladrão, marginal, enfim, a pior pessoa da face da terra.
É domingo. Pela manhã, convidar alguns amigos e dar uma grande volta de bicicleta no bairro e procurar um parque. Até tudo bem, digo que ao sair de casa, com uma bicicleta importada, poderá ser até assassinado por causa deste bem.
Enfim, crescer é um sonho adolescente. Este sonho pode até ter consequências distorcidas da realidade. O meio violento em que se vive torna-se o sonho de crescer e virar adulto mais temível e preconceituoso.