Nota Sobre Profundidade

Adia. Adia a felicidade, o bem-estar, a conversa. Até que há dias que a voz insiste em querer sair e a boca não consegue dizer. Há dias... Há dias observo, minuciosamente, cada detalhe de tudo que aquela boca insiste em não dizer. É exceção, é raro, é profundo mergulhar no mais íntimo do ser... Lembro de como o universo conspirou até poder ter alguma possível convicção sobre ela (e quando se coloca um “possível”, nota-se que não há convicção alguma).

Aquela linda mulher, num corpo de menina – ou aquela menina, num corpo de mulher -, tinha um jeito peculiar de disfarçar tudo aquilo que se passa ali dentro. “Para com isso, cara!”, repreendi na minha mente. Ser observado com olhos, que são mãos, é desconcertante: ela me olhava e parecia despir-me a alma em cada palavra não dita. Era perturbador.

[...]

Entre um conselho e outro, um olhar indefinido me trazia confusão. Aliás, ela é deliciosamente perturbadora. Digamos que ela é e sempre vai ser um grande ponto de interrogação... Chega a ser irônico: a reviravolta que a vida me trouxe pra entender que oportunidades não surgem mais de uma vez. Anotação número um: uma interrogação nunca terá o mesmo sabor do ponto final.

Dentro de si buscava simplesmente não sentir, não se importar. Mas como importar é levar para dentro, doía. E doía muito. E se afastava para que ninguém pudesse perceber a dor. E o fato de querer que ninguém a sentisse, me fez a sentir. E eu senti uma necessidade tamanha de sentir junto, que não medi esforços para que isso acontecesse. E ela se fechou. E eu não desisti.

Enxergar, detalhadamente, que alguém foge de si mesmo é algo que traz ainda mais perturbação. É ver a dor, como quem vê o fogo, é tentar apagar o fogo, mas estar do outro lado do mundo, da tela, da cela que encarcera todo sentimento, bom ou ruim, que aquele coração cheio de sonhos teve de enfrentar. Anotação número dois: amar alguém e querer ajudar quem bloqueia sentimentos pode assustar. Lembro-me de um trecho da música “O Teatro dos Vampiros”, de Renato Russo: “Quando me vi tendo de viver/ comigo apenas e com o mundo / você me veio como um sonho bom / e me assustei, não sou perfeito”, entendi, ali, como o puro e simples fato de amar incondicionalmente alguém é importante. E porque amor? É uma pergunta que qualquer um que esteja lendo agora está se fazendo e eu não sei se é o bom momento de responder. Continuemos...

Depois do fato de assustar alguém pela transparência, limpidez, clareza em relação ao ato mais puro de se doar, nota-se que há, o mínimo que seja, empatia, sutileza, consideração ou outro adjetivo melhor que caracterize a tentativa de proximidade. Respeito, sem dúvida. Aos poucos e, gradativamente, o elo se fez surgir ao passo em que as necessidades um do outro se mostraram... era evidente que ambos tinham muito por dizer e fazer um para o outro...

Eduardo Costa (Apresentador)
Enviado por Eduardo Costa (Apresentador) em 12/09/2018
Código do texto: T6446197
Classificação de conteúdo: seguro