De verdade, o que significa a palavra “amor”?

Falar de amor quase sempre soa piegas, por isso resolvi abordar o assunto de um modo bem imaginativo.

Pois bem. Muita gente gosta de cuidar de flores. Primeiro vem o interesse por algum tipo específico, depois compra-se o vaso ideal (se for para área interna), a terra certa, adubo (se for o caso); aprende-se sobre como manter a terra úmida, sobre a quantidade certa de água, e por aí vai. Amor ainda não é isso, mas vamos chegar lá. Outro exemplo rápido? Animais de estimação. Exige-se um certo esforço cuidar de um cãozinho (ou outra espécie de animal), dar banho, alimentar, dar água, limpar os cocozinhos (dependendo do tamanho), dar vacinas, levar ao veterinário de tempos em tempos, enfim… Seguindo nos exemplos, muita gente cuida bem da casa e a deixa limpa, organizada, arejada e livre de insetos. Por fim, há que trate bem de seus equipamentos, de seus livros, de suas coleções, etc. São exercícios, atividades, ações constantes de cuidados e bons tratamentos. É difícil dizer que o propósito de todo esse esforço seja para obter uma retribuição futura apenas. A verdade é que, ao tratarmos nossos queridos pertences com o devido cuidado, damos a eles a oportunidade de exibirem suas melhores características. Se é flor, que exale cheiro, avive a cor e cresça adequadamente. Se é a casa, que seja confortável, desejável. Caso seja um cão, queremos vê-lo correndo, fuçando a casa atrás de brinquedos, demonstrando altivez e saúde. Quando estas qualidades são exibidas livremente, há em nós um forte desejo de que elas permaneçam sendo exaladas por mais tempo, sem julgamentos e sem questionarmos sobre o que poderia ser ou o que deveria ter sido. Então, uma forte conexão é estabelecida entre ambos os lados, o beneficiador e o beneficiado.

E acredite, é assim também que funciona com as pessoas. Criamos fortes e verdadeiras relações com alguém, com algo ou com nós mesmos ao executarmos ações simples, às vezes, que ajudem a extrair a melhor qualidade, até então sutil ou escondida.

Com pouco esforço já conseguimos fazer reluzir um brilho ou uma cor vibrante de alguém. A essa qualidade ou característica que exala na extração, podemos chamar de alegria. De repente alguém se anima assim que nos vê, ou vice-versa. De alguma forma soubemos extrair alegria desta pessoa e ela exibe sua melhor característica, ou ela fez o mesmo conosco. As ferramentas mais utilizadas para fazer esse tipo de extração são: o sorriso, algumas palavras de apoio, gestos positivos (não estou falando de presentes ou extravagâncias). Com isso cria-se conexão.

A irresistível vontade de extrair o melhor das pessoas pode ser a verdadeira definição da palavra amor. Pois não há necessariamente uma recompensa ou retribuição posterior. Novamente, o esforço demandado serve apenas para que o outro exale o melhor de si.

No entanto, a palavra “amor” vem sendo desgastada com o tempo, sofrendo perda de brilho, de cor, de significado. Ouvimos pessoas dizerem que amam seu celular, ou um jogo, ou um filme, ou um livro, um bolo e até entendemos a analogia, mas o sentido da palavra amor neste contexto tem se manifestado como algo egoísta no lugar de altruísta. Temos nos esforçados para extrair nosso próprio brilho e dizemos amar objetos e pessoas que tornam isso possível, mesmo que por um curto momento. A consequência é a desconexão, o distanciamento.

A simples manifestação do amor egoísta reduz o valor da alegria irradiada até ficar opaca. Não raro, substituímos rapidamente o sujeito opaco por algum outro. O trabalho para extrair a melhor característica desaparece. Opta-se por aquele que traga alegria de fábrica, às vezes, inserida artificialmente. A conexão é curta e sem profundidade. Quando acontece, substitui-se a flor por outra que dê menos trabalho e que viva por mais tempo. Afinal, é flor. Troca-se o cãozinho por outro menos bagunceiro. A conexão é apenas com a companhia que, neste caso, pode ser proporcionada por um animal mais dócil. Quando é uma pessoa, mantém-se perto só quando ela é útil, bem-disposta ou está alegre por razões alheias.

E o que o amor pode fazer por mim?

É aí que está o truque. O amor é manifestado nas ações realizadas e destinadas a terceiros, por isso altruísta. Podemos buscá-lo, mas ele não virá antes de exercermos o amor a quem quer que seja, que precise ou não de mais ou menos amor. Ao exercer o amor você se torna apto a recebê-lo. Outras pessoas, o seu animal de estimação e, talvez alguém que você menos espera podem estar se esforçando agora mesmo para extrair o melhor de você. Nem sempre é fácil permitir, mas é fácil se acostumar, afinal estamos falando de amor e alegria, quer algo mais positivo que isso? Com o devido tempo, pode até se tornar felicidade (outra palavra que sofre perda de significado).

Luciano Lagares
Enviado por Luciano Lagares em 11/09/2018
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