Sol, o sábio incompreendido

A luz do sol leva cerca de 8 minutos e 20 segundos no ponto exato em que atinge a superfície do planeta Terra.

Estranho pensar nisso, já que o sol não liga e desliga como uma lâmpada. Na verdade, é até difícil para uma pessoa comum compreender que a luz viaja pelo espaço. Nos interessa saber dos períodos dia e noite, pois isso afeta nossas vidas de forma mais direta. Mas, lá fora, a luz continua viajando pelo sistema solar até sua força (ou energia) extinguir.

Pobre das partes que atingem os astros. Pois são bloqueadas e impedidas de prosseguir viagem. Só mesmo a luz para atingir um astro de velocidade da luz, para velocidade zero.

Ao menos a luz pode desfrutar de um planeta diferente, ou um meteoro, ou cometa, ou luas, etc.

Imagina o quanto Plutão, o astro distante, não faria para estar mais pertinho do sol, afim de obter de sua luz um pouco mais de cor, de brilho, de personalidade. Não, ninguém quer ser Plutão.

Transcorridos os 8 minutos e 20 segundos (que parecem sofrer variações), alguns sortudos devem se vangloriar de serem os primeiros a receber a luz matinal. Pensando dessa forma, bate uma ponta de inveja. Só fico imaginando a sensação de estar no cume dos alpes, das cordilheiras mais altas e ser um dos primeiros a receber a luz viajante. Em retribuição, ela me aqueceria aos poucos, bem tímida no começo, como muitos “chegantes”. Assim que ficasse mais à vontade, ela escorregaria montanha abaixo, matizando sua pele dura de amarelo, hora alaranjado, hora “ocreado”.

Lembro-me de quando criança, junto com meus irmãos e meus amigos, ficávamos atrás de um muro, que fazia sombra em outro e erguíamos as mãos para "alcançar o sol". Uma intenção inocente, mas rica. O sol, para nós na época, era como algo inalcançável, inatingível, talvez, tão importante quanto em muitas sociedades primitivas que o cultuavam. Para nós, crianças descalças nos anos 80, erguer as mãos e pegar a luz, era um modo de se conectar ao sol de uma forma bastante íntima. Se alguém falasse que aquela luz viajou 8 minutos para atingir nossas mãos, daria um nó em nossas cabeças.

Nas cidades mais urbanizadas os prédios e torres, onde as pessoas se escondem, parecem sorrir quando recebem a luz. Os gigantes de metal, vidro e concreto destacam-se frente aos demais e viram as costas para alongar suas sombras, lugar mais apropriado para transeuntes de pele sensível como nós.

A relação com a luz do sol se tornou de amor e medo desde que começamos a desentender as coisas por excesso de informação. Nosso corpo necessita de ao menos vinte minutos de exposição aos raios solares para adquirir vitamina D, essencial para diversas funções do nosso organismo. Há sites, blogs, vídeos e diversos recursos disponíveis na internet para esclarecer sobre este assunto. Há também os que alertam para o perigo do câncer de pele, é bom ficar atento aos horários indicados de exposição ao sol. Ninguém quer brincar com isso.

Mas o sol, astro principal do sistema solar, não é nosso inimigo.

Ele se transformou por milênios, estabilizou sua irritação nuclear, até ser capaz de produzir uma energia tamanha e extremamente benéfica, e a fornece gratuitamente para vegetação, organismos marinhos, animais visíveis e invisíveis usufruírem da simples e modesta luz do sol.