SONHOS E REALIDADE

SONHOS E REALIDADE

Lembro-me de um livro chamado Passagens- Crises Previsíveis da Vida Adulta. A vida adulta possui uma duração muito mais longa que a infância e adolescência e mesmo assim foi pouco estudada. A autora, Gail Sheehy, divide a vida adulta em fases com características próprias cada uma, que nos dá uma visão que permite pensar no que já vivemos e o que provavelmente viveremos. Como o encanto da vida é o imprevisível, lidamos com possibilidades que nem sempre acontecem. Mas somos capazes de projetar os próximos passos de nossa vida e até mesmo escolher o que desejamos que aconteça. São nossos sonhos, resultado de nossas experiências, intuições, desejos, afinidades, etc..

Desde a infância temos insights de como é ser adulto, e os modelos são nossos pais, parentes, e amigos destes. Não temos o chamado “status quo” próprio e é observando nossos adultos que fazemos as primeiras projeções do futuro que desejamos para nós e criamos sonhos. Meu pai era um militar muito light, culto, que gostava de pescar, ir à praia e seus amigos eram outros militares. Meus avós conviviam conosco e meu avô era um homem que havia saído de casa com seis anos de idade, nascido em Saquarema-RJ, e foi criado no mundo. Ocupava a função de chefe dos eletricistas do Forte Itaipu e era famoso por sua coragem diante de quaisquer circunstâncias. Em meus primeiros aniversários, de dois ou três anos, lembro-me de nossa casa cheia de amigos que também moravam no Forte. As perguntas eram as mesmas que fazemos até hoje para as crianças: “O que você vai ser quando crescer?” Isso provoca nossas primeiras conjecturas sobre o futuro. E assim foi comigo.

Escolhi ser piloto de aviões. A jato, é lógico, pois a era a última palavra em tecnologia aeronáutica. Durante um bom período, essa era a minha resposta: “Vou ser piloto de avião a jato!”. Voar era um sonho que aos poucos descobri ser pouco provável. Então, desejei ser professor, jogador de futebol, jóquei, etc. Com a chegada da adolescência, me via como um grande empresário ou alto executivo. Não sabia o que essas pessoas faziam, mas eu morava em uma bela casa, andava de terno azul, camisa branca e gravata também azul, cabelo rareando e não largava uma pasta de couro de cor preta. Não praia do Gonzaguinha, em São Vicente, havia uma casa amarela com uma grade frontal, alta. A construção era afastada da calçada, com uma grande varanda. Como nos hotéis de luxo que eu via nos filmes, havia dois portões para carros, um em cada ponta da grade frontal, para entrada e saída de carros. O motorista de uma limusine entrava e estacionava em frente à varanda. Eu saia de casa de terno e com a pasta, sentava no banco traseiro e ia trabalhar. O interessante desse sonho é o fato de nunca aparecer a parte do trabalho, só o lado “chique” ocupava meu imaginário.

Santos 13 de julho de 2018.

Paulo Miorim
Enviado por Paulo Miorim em 11/09/2018
Código do texto: T6446012
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.