DISCRIMINAÇÃO

Sim, senhores, eu lamento tal coisa... eu lamento falar a respeito de discriminação sobre a origem da gente da própria nação brasileira!...

Quando resolvi escrever estas linhas foi para rebater a necessidade de criação da “república dos pampas” ou algo parecido, terrivelmente parecido com a segregação imposta aos homens pelo nazismo, da qual bem sabemos as consequências maléficas e desastrosas para a Alemanha e o mundo.

Começo informando, sem querer ser pedante, que existe no Nordeste muita gente de alto nível: intelectuais com reconhecimento mundial, cientistas sintonizados com pesquisas avançadas no mundo adiantado e que as produzem cá, escritores como João Ubaldo, Jorge Amado, Rachel de Queiroz etc. Sei também que nosso Brasil é dicotômico, possuindo dois povos apartados por causa de diferentes graus de conhecimento: o que vive à margem da leitura e o afeito à sua prática, não é mesmo? Trata-se de uma marcação grosseira, mas eu também me insiro na dicotomia posta aqui.

A ignorância pode ser abordada em qualquer canto da Terra Brasilis, por certo. Não cabe aos escritores ou jornalistas estigmatizá-la com particularidades atribuídas a qualquer região, estado ou cidade.

Múltiplas carências de cunho escolar, educacional, comportamental etc, estão do Oiapoque ao Chuí. Sotaques não fazem diferença, biótipos da mesma forma, riqueza material não diz o bastante da dignidade humana, atuação política não reflete idoneidade de cidadão algum...

Há muito folclore indigno acerca de atributos derramados sobre nordestinos. Muitos ditos originam-se de gozações desgraçadas ou sem graça de quem nada mais além de brincadeiras descabidas, grosseiras ou rasteiras pode oferecer ao crescimento cultural e humanístico deste país e, em especial, aos habitantes de terras menos favorecidas pela natureza, muitas vezes insuportável para o ser humano “gozador” ou "brincalhão" sentado em seu confortável apartamento em algum lugar do planeta, “com a boca escancarada, cheia de dentes”, na plenitude do ócio e na latência ou morte do corpo, espírito e alma.

Sei de uma recente tese de doutorado (defendida na USP) que desmascarou a crença de que o povo ou trabalhador baiano é preguiçoso e indolente. Nela fora provado que a crença danosa e mesquinha decorrera de preconceituosos senhores sobre empregados oriundos da Bahia, sofredores da exploração e da maledicência derivadas do capitalismo cruel e desumano.

Bem pior é saber que em São Paulo todo nordestino é chamado de baiano. E o que essa coisa tem a ver com a Bahia?

No Rio de Janeiro, Paraíba (terrível discriminação que fez o deseducado jogador Edmundo ainda está respondendo processo judicial por falar em público seu preconceito inato ou não)!

A favor dos retirantes nordestinos, há anos em fuga das agruras da seca reinante no semi-árido, não posso esquecer de que muito de importantes e grandiosas obras realizadas no Sul e nos demais estados brasileiros contaram com a mão-de-obra de emigrantes do tórrido interior nordestino, dos lugares menos favorecidos pelo Nosso Grande Criador, não é mesmo verdadeiro?

Somos brasileiros!... Somos de todos os cantos deste mundão de terra e ainda falamos a mesma língua. Se nós temos genes de índio, português, africano, inglês, espanhol etc, então nós somos realmente híbridos magníficos e, assim, pelo que sabemos da Genética, das descobertas de Mendel, os híbridos são sempre mais fortes! Portanto, nós, brasileiros, devemos, por conseguinte, enaltecer as qualidades como bem fez Euclides da Cunha, em admiração ao povo de Conselheiro: “O nordestino é, antes de tudo, um forte!”. Entretanto devemos hoje falar, mesmo que parafraseando o barroco Euclides, que o brasileiro é um forte!

Entendo, lamentavelmente, dentro do meu minúsculo saber, que muitos brasileiros, mesmo que recheados de dinheiro e bens materiais, carecem muito de conhecer um pouco da etnia, origem e realidade, mas não costumam ler ou praticar incursões intelectuais para que os remetam a tal conhecimento, o que se me parece uma pena deveras lastimável!

Vamos ser mais brasileiros, afinal já estamos com mais de 500 anos de idade!

Oswaldo Francisco Martins
Enviado por Oswaldo Francisco Martins em 11/09/2018
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