Olhos Molhados

Ouvi uma vez a teoria de um sábio que afirmava que as pessoas estavam dispostas em uma fila indiana, um atrás do outro. Todos, indistintamente conseguem ver à frente, o seu próprio umbigo, bem como as costas daquele que está indo a sua frente.

Isso significa que valorizamos muito a nós mesmos, ou o que queremos aparentar ao mundo. Às costas ficam nossos defeitos e problemas, os quais, queremos ocultar dos outros e até de nós mesmos.

O que vemos do outro? Apenas as suas costas, ou melhor, os seus defeitos. Quem anda atrás da gente também só vê nossos defeitos, porque veem nossas costas, não nosso coração ou nossos olhos que refletem o que sentimos.

E assim caminha a humanidade... Apontando os erros, criticando as pessoas sem dar-se conta dos próprios. Até quando caminharemos assim?

Existem alguns poucos nessa fila que devem estender a mão, tentando ajudar. Mas o orgulho que vê somente o próprio umbigo, jamais será capaz de reconhecer o quanto somos falhos, e a mão estendida em forma de ajuda será somente o sinal de nossa fraqueza, apenas um defeito vergonhoso para esconder.

Isso não é religião, não é conselho. É apenas uma constatação.

Os erros dos outros não importam no crescimento subjetivo de cada um? É um aprendizado do outro? Mas pode ser um aprendizado de quem assiste. Enquanto a humanidade não for capaz de perceber que viver é aprender todos os dias, com todos e com tudo, as disputas, as críticas, as exclusões, os julgamentos serão a segregação dessa oportunidade única de ver-se como, de fato, somos.

Somos todos imperfeitos precisando de ajuda, de amor, de uma mão estendida, de um coração aberto à compreensão... Trazemos todos essa insegurança de não sermos autossuficientes. Estamos todos precisando ser olhados nos olhos. Estamos todos cansados de olhar sem ver. Estamos esgotados de tantas costas diante de nós.

Tudo isso afasta os amigos, impede o amor de nascer. Virar-se para olhar nos olhos de quem vem atrás é um ato de extrema coragem! Gostaria muito de conhecer a sua coragem, mesmo que traga seus olhos molhados ou assim estejam os meus...