CABO ELEITORAL POR UM DIA
Eleições estaduais do ano de 1970. Eu era estudante de Engenharia Química, já no quarto ano. Para passeios e diversões, recebia uma pequena mesada dada pelo pai. Um dia aparece um convite irrecusável. Você quer trabalhar e ganhar uma boa grana, no dia das próximas eleições, levando eleitores para votar? Perguntou Jeremias, conhecido da minha futura sogra na época. Topei na hora. Tinha um fusca da família que era para ir para a faculdade e iria usá-lo nesse dia.
As eleições eram para governador, senador, deputado federal e estadual. A eleição para governador foi tranquila. Como vivíamos em plena ditadura militar, foi uma eleição indireta feita pela Assembleia Legislativa. O eleito foi o Eraldo Gueiros com 100% dos votos (ARENA), pois os deputados do MDB se retiraram do plenário. Ele teve 44 votos. Para o Senado foram eleitos Paulo Guerra e Wilson Campos, ambos da ARENA. O empresário José Ermírio de Morais do MDB perdeu a eleição.
A empreitada que me ofereceram foi trabalhar para o candidato à reeleição no cargo de deputado estadual, o médico Mario Monteiro de Melo do MDB, que era apoiado pelo rico candidato ao Senado, José Ermírio. O Dr. Mario morava na rua da Harmonia em Casa Amarela e era muito popular naquele bairro, pelos serviços prestados como médico.
A tarefa era ir para a casa do candidato, onde um dos cabos eleitorais entraria no carro e ia orientando o motorista para ir na casa dos eleitores e levá-los até às zonas eleitorais, aguardar que eles votassem e conduzi-los de volta até às suas residências. Cabo eleitoral era a pessoa encarregada de conseguir mais eleitores para os candidatos que eles apoiavam.
Cheguei cedo à casa do candidato a deputado, me apresentei e já indicaram o cabo eleitoral que iria me guiar durante o dia. Vários outros carros com motorista, aguardavam instruções. Ele entrou no fusca e disse: “vamos para tal endereço, num bairro afastado da cidade.” Lá, os eleitores já nos aguardavam ansiosos. Um casal. Eles nos informaram onde deveriam votar. Fomos até lá e fiquei aguardando que eles votassem. Após isso, os levamos até à sua residência. Assim sendo, partimos para o próximo endereço e repetimos a operação. Chegou a hora do almoço... fomos almoçar e depois das treze horas começamos tudo de novo.
As 17 horas estava eu na casa do deputado para receber o salário referente à tarefa combinada. Cabo eleitoral por um dia. Resultado: o deputado Mario foi reeleito e o senador, gastando rios de dinheiro, perdeu a eleição. Que eleiçãozinha cara... um carro à disposição para dar a ele uns sete a oito votos. Hoje tem uma rua no Recife e um Centro de Saúde com o nome do deputado Mario Monteiro, em sua homenagem.
Ainda bem que as eleições no nosso pais agora estão mais moralizadas. Carregar eleitor para votar, agora é proibido, bem como outras práticas antigas, como distribuir camisetas, chaveiros, bonés, canetas, brindes, cestas básicas, bens ou materiais que proporcionem vantagem ao eleitor. Viva o Brasil!!!
Carlos Alfredo, há 50 dias das eleições presidenciais de 2018
Recife, 18/8/18