UMA MARIA MADALENA EMPODERADA
Quando nos deparamos com a visão arcaica que as sociedades modernas ainda têm das mulheres em pleno século 21, é fácil entender a tentativa da Igreja Católica de banir Maria Madalena da sua fé. E para fazer isto lá nos primórdios, a melhor maneira foi apontar o dedo e gritar alto para ecoar: “Uma prostituta”.
A fé católica desde sempre foi dominada e governada por machistas. Sua parcela de culpa pelo machismo dominar o mundo é enorme. Neste ambiente inicial da fé é possível imaginar numa missa alguém dizendo: “Evangelho segundo Maria Madalena”? Nem em nossos dias isto aconteceria. Uma evangelista ainda não seria aceita.
Cabe até uma analogia um tanto engraçada com a atriz Rooney Mara que interpreta Maria Madalena. Nas ficções Rooney parece não ter muita sorte com os homens. Ela é a hacker abusada sexualmente Lisbeth em “Os Homens que não Amavam as Mulheres”. Como Maria Madalena, viveu numa época em que as mulheres eram consideradas quase como escravas. Inclusive sexuais.
O filme “Maria Madalena” começa com um parto difícil. Um primeiro recado aos homens. Olha só as dores que temos de sentir para vocês chegarem ao mundo. Muitos estudiosos afirmam que Maria Madalena era rica. O filme optou por mostrá-la pobre. Rica ou pobre, certamente sua infelicidade com a condição de mulher seria a mesma.
Maria Madalena convive com seus dilemas de mulher. A recusa de um casamento arranjado é motivo de vergonha para toda a família. Logo seus dilemas são confundidos com possessão demoníaca, e Maria Madalena passa por um exorcismo.
Para Maria Madalena as palavras não de um Jesus salvador, mas de um revolucionário interpretado pelo ator Joaquin Phoenix, que também foi o imperador Cômodo em “O Gladiador”, antes da fé, serviram para concretizar o seu desejo urgente de fuga e liberdade. O que diríamos ainda hoje de uma mulher que abandona sua família, e passa a caminhar com um bando de homens desconhecidos? Com toda a certeza, gritaríamos alto para ecoar uma outra palavra que também começa com P.
O filme não comete indelicadezas e nem precisa. Os closes nos olhos e nos olhares deixam claro outro dilema vivido por Maria Madalena. Estou seguindo este homem por uma fé ou por um amor. É possível que a ficção do filme opte pela segunda opção quando Maria Madalena ouve da mãe de Jesus: “Se você o ama prepare-se para perdê-lo”. Não é o mesmo que: “Se você tem fé e acredita na sua doutrina...”.
Que todas as crenças existentes são baseadas em ficções é um fato. Todas essas ficções desempenham papel fundamental nos conflitos e dilemas das sociedades modernas. Provavelmente se Maria Madalena não fosse banida da ficção, não haveria também na ficção uma hacker abusada sexualmente chamada Lisbeth.