OUTRA QUESTÃO.
- Então seu José, o senhor é ou não é a favor da liberação das armas?
- Leonardo, veja bem, embora a ideia de liberar armas para a população pareça correta, agradável, não o é de todo.
- Ah, lá vem o senhor novamente, como assim, não entendi?
- Responda-me bom homem, quantas foram as vezes que você foi assaltado aqui neste seu bar?
- Isso me entristece lembrar sabe, mas peraí... Deixa eu ver... Se não me falha a memória mais de dez vezes.
- Sei… Agora me diga, em quantas delas o senhor reagiu?
- Santo Deus seu Crispino, em nenhuma, não sou louco?
- Agora vou reformular a minha pergunta; se, porventura, o senhor estivesse de posse de um revólver, em quantas dessas dez vezes os senhor teria reagido?
- Com certeza na primeira.
- Muito bem, mas, temos outra questão aí?
- Temos é?
- Sim, claro que temos.
- Lá vem o senhor com suas ideias professor, e que raio de questão é essa homem.
- É uma questão de probabilidades, possibilidades, de possíveis finais para a sua reação no caso de estar armado e reagir.
- Ah seu José, agora, homem, o final é claro que eu sairia bem, e esses maldito bandido estaria sete palmos debaixo da terra.
- Amigo Leonardo, eu o conheço já de longas datas, quando eu lecionava no Leonor, e naquele tempo, eu já frequentava seu bar, sei bem como é o temperamento do senhor. Agora imagine; o senhor portando um revólver.
- Professor… Ia ter muito bandido morto.
- Mas, voltando a nossa questão; ao meu ver, na minha análise pessoal, haveria a possibilidade do senhor, já no primeiro assalto, ao reagir, ter matado o assaltante, assim como, poderia também o assaltante ter lhe matado primeiro, vamos colocar meio a meio de chances para cada um. Mas a questão entra aí, imagine que ele o mate, o que aconteceria Leonardo?
- É… Rapaz, pensando bem… Minha mulher e meus filhos ficariam desamparados, uma mulher sem marido, filhos sem pai, minha mãe sem o seu filho mais velho, é… Séria bom não.
- Então amigo, prosseguindo, no caso do bandido ter sido morto pelo senhor, não seria uma coisa tão simples assim, todos nós brasileiros sabemos, e não adianta dizer que não sabe, que, atrás de um bandido menor tem outro maior, no caso do bandido morto, seria substituído, e o senhor, seu Crispino, se transformaria em alvo de outros bandidos, que por certo vingaria o amigo, isso no caso do senhor da polícia prende-lo, que seria bem mais provável. Uma coisa puxa a outra amigo, violência gera violência, se eu tenho uma arma e o direito de defesa, o outro também terá, mas nesse meio temos o bandido, que não se importa com nada. Teríamos então, à nível de Brasil, grandes possibilidades dessa coisa toda não dar certo.
- Mas como resolver então seu Crispino? Olha aí a coisa como está, e o Rio de Janeiro então.
- Na minha opinião, o governo deveria investir tudo o que tem e pode em educação, não estou falando de uma coisa aqui e outra acolá, estou falando em investimentos de verdade, pesado, sério, como em países de primeiro mundo.
- É seu José… Mas como o senhor mesmo disse, temos outra questão aí?
- E qual é?
- Corrupção, a velha corrupção.
- Não precisa falar mais nada, eu já entendi, a questão é que, estamos a deriva meu amigo, em um mato sem cachorro, em uma locomotiva desgovernada, e por aí afora vai.
- É seu José, toma mais um cafezinho vai, vamos deixar essa conversa de lado.
- Concordo, esse tipo de conversa nunca tem fim mesmo, há sempre uma questão a mais, uma controvérsia, o melhor é tomar o meu café e falar de futebol.