ONDE ESTÃO OS HOMENS BONS?

Míriam era uma garota muito curiosa e tagarela. Sempre que lhe surgia alguma dúvida, corria para qualquer pessoa que pudesse esclarecê-la. Um dia, enquanto assistia um candidato a presidência discursar na tv, ela ouviu os dizeres "pelos homens bons" e os guardou consigo.

Correu pelos corredores de sua casa à procura de sua mãe. Marta, mãe de Míriam, estava preparando o almoço quando percebe os passos apressados de sua pequena vindo em sua direção.

- Mamãe, o que é um "homem bom"?

Marta, com o olhar perdido entre os temperos, respondeu:

- Meu anjo, um homem bom é aquele trabalhador que cuida da sua família. Esse tipo é o mais esperado pelas mocinhas que querem casar.

- E a senhora? Encontrou o seu homem bom?

- Claro que sim! Seu pai, tolinha! Ele me respeita e não me nega nada. Deu-me uma casa para morar e você. Além de muitas jóias.

Míriam, não satisfeita com a resposta, subiu as escadas em direção ao escritório de seu pai, o qual trabalhava incansavelmente entre papéis e mais papéis repletos de números. Com cuidado, ela se aproxima dele e pergunta:

- Papai, o que significa "ser um homem bom"?

O pai, sem se quer fitar a filha, responde:

- Um homem bom é aquele que vive para o trabalho. Sua vida é o trabalho e o lucro.

- Mas isso o faz "bom"?

- Sim, além de rico. Feliz e bom é o homem de grandes riquezas.

- E a família?

- Bem, a família é boa para aumentar e levar essa riqueza a diante.

Míriam precisava de mais uma opinião. Correu para a varanda onde seu avô descansava em uma cadeira de balanço, com um livro na mão, um par de óculos meia-lua quase na ponta do nariz e ao lado, uma mesinha de madeira com uma xícara de café em cima. Ela se aproximou com um banquinho na mão, para sentar-se com seu avô.

- Vovô? - perguntou ela, timidamente.

- Sim, querida? - disse ele, fechando o livro com um sorriso doce.

- O que é um homem bom?

- Já perguntou aos seus pais?

- Sim.

- E o que eles disseram?

- Bem, a mamãe disse que é um homem que dá jóias para a esposa. O papai falou que é um homem de muitas riquezas.

- Oh! Então deve ser isso.

- Mas como? O senhor também acha isso?

- Não, mas é meu dever como "homem bom" não contrariar a educação alheia.

- Vovô, não entendo!

- Ouça, querida. Um homem bom tem várias versões. Quando fala-se "homem", está se referindo tanto aos meninos quanto meninas, entende?

- Então, também existem "mulheres boas"?

- Sim, mas vamos falar "pessoas boas" para facilitar, ok?

- Tudo bem, vovô!

- Então vamos lá. A princípio, uma pessoa boa é aquela que procura a paz, tanto para si quanto para o próximo. Isso, por si só, já engloba várias outras coisas como altruísmo, generosidade, respeito, reciprocidade, sensibilidade e, acima de tudo, amor. Não resume seu amor apenas entre os familiares, mas o espalha para todos a sua volta.

- Nossa, vovô! Que bonito!

- Verdade. Seria lindo se fosse assim.

- E porquê não é?

- Bem, nossa sociedade lapidou um novo tipo de "homem bom".

- E qual seria?

- Resumindo, seria aquele que obedece tudo que a sociedade impõe, sem questionar nada. Um ser sem vontade própria. Sua vontade é ambiciosa e igual à do outro. Nisso, vão nascendo as competições e assim, as guerras. Os "homens bons" são aqueles que criam suas guerras e usam outros para lutarem por elas.

- E... Porquê?

- Querida, não sei. Simplesmente, eu não sei. Essas guerras que estes "homens bons" criam, são as mesmas que vocês, crianças, criam, pois ambos são comandadas pela infantilidade. A diferença, é que vocês possuem a verdadeira bondade, a inocência.

Após uma breve pausa, Míriam olha para o seu avô e pergunta serenamente:

- Vovô... Onde está o verdadeiro homem bom?

- Bem... Este já morreu.

Thaíssa Henrique
Enviado por Thaíssa Henrique em 08/09/2018
Código do texto: T6442572
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