CONFISSÕES DE UM SESSENTÃO
Aprendi a acreditar nos versos da dor. Aprendi a me agigantar nos pequenos vãos das dúvidas. Aprendi a enxergar nas cegueiras da incompreensão. Acabei virando um nômade dentro de mim, vagando a esmo por mísero carinho, aceno, ou teco de perdão. Entendi que poderia ensacar meus orgulhos e despachá-los para além do fim do mundo quando bem quisesse. Aprendi a recuar, a relevar, a sorrir. A vida foi me golpeando com seus pontapés aloucados até que, finalmente, desenlouqueci. Demorei 60 anos para acordar, para entender que meus parafusos soltos faziam parte do enredo da minha sanidade. Demorei 60 anos para escutar meus próprios medos, enredos, falcatruas. Foi necessária essa tonelada de tempo para me humanizar, derreter o chumbo que me impedia de voar e, pasme, desnudar aquela armadura que não deixava ninguém tocar minha alma. Não está sendo fácil essa guerra comigo mesmo. Terei infinitas recaídas, tropeços, e tantos erros de percurso mais quanto forem necessários. Mas não tinha outro jeito, nem, tampouco, outro remédio. Estou entulhado de feridas, cicatrizes e uma porrada de carimbos na teste do tipo "negado". Tudo isso fez parte do meu show. Agora é partir para a grande estreia, vivendo todas apoteoses que tiver direito. Vamo que vamo!