PASÁRGADAS (PLURAL MESMO!)

"VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA................................" - MANUEL BANDEIRA

ELE - Vasta erudição, poeta, cronista, tradutor de várias línguas, professor, crítico literário cuidadoso e conhecedor profundo da cultura hispano-americana.

Segundo o próprio poeta, PASÁRGADA /descobriu este nome aos 15 anos, numa aula de grego no Colégio Pedro II, traduzindo a "Ciropédia", de Xenofonte/ foi uma antiga cidade da Pérsia que Ciro, o Antigo, mandou edificar, e significa 'campo (ou tesouro) dos persas', suscitando na imaginação de Bandeira uma paisagem fabulosa, país de delícias, "agora a minha Pasárgada". Poema concebido num momento de profundo desânimo, frustrado por tudo que não fizera na vida, pelo precário estado de saúde, o poema de mais longa duração em toda sua obra - começado quando morava sozinho, numa casa na rua Curvelo, em Santa Teresa......... anos para ser encerrado em nova crise de desalento e tédio. Diziar gostar do poema onde via o resumo de sua vida.

ESTRUTURA FORMAL - métrica + ritmo poético - Poema em redondilha maior (7 sílabas poéticas), ritmo agradável de canção popular - linguagem oral, estrofes que variam de 5 a 12 versos, sem esquema de rimas - figuras sonoras simples, mas de efeito - caráter moderno de verso livre (liberdade poética), desejo de poema em ritmo de canção.

PASÁRGADA - Lugar criado pelo poeta para fugir à realidade doída, cinzenta da vida cotidiana + aventura possível... Elementos prosaicos: fazer ginástica, andar de bicicleta, subir em pau-de-sebo... + elementos fantásticos e absurdos: mãe d'água, rainha, nora que nunca existiu... - no sonho, o que nunca realizou na vida real, proibições por saúde fraca (?), o retorno à infância pela memória de Rosa e suas estórias, tristeza evitada com ajuda de um amigo (na verdade, ele mesmo), REI deste lugar: "eu-lírico" consolida-se, confunde-se e identifica-se com o POETA. ----- Jogo de tempos verbais, em especial do modo indicativo, presente /fuga para Pasárgada descrição de seus recursos, e condições de país com civilização adiantada/ e futuro /ações ou atos que a realidade, fora dali, sempre lhe negou/, indicando coisas possíveis e sonhos. ----- Na seleção desses tempos, residem a tristeza e a ironia contidas no poema, relacionando frustrações da vida real e possibilidades de realização no futuro e na amarga irrealidade do sonho. ----- Amargor quebrado com o humor do absurdo das situações, "nora que nunca tive" (ele, sem filho...) - irracionalidade, busca desesperada de evasão pelo sonho... que continua absurdo. ----- Pronomes "aqui" (de onde escapa) e "lá" (onde busca refúgio) - limites da realidade negada pelo POETA - o "aqui' /"Aqui eu não sou feliz"/ se faz mais forte na tentativa de suicídio; pensamento ironicamente quebrado pela lrembrança do "lá" e promessas e possibilidades de prazer.

INTERTEXTUALIDADE um tanto maldosa... super paródia em outro poema cheio de oposições, agora o Poeta é MILLÔR FERNANDES:

"Que o Manuel Bandeira me perdoe, mas...

VOU-ME EMBOR A DE PASÁRGADA"

Revista ISTO É, 15/7/67

É inimigo do rei, não tem nada do que quer, não tem e nunca terá, vai-se embora: lá não é feliz... cansado sem esperança num país "em que tudo nos revolta". Sem identificações claras, mas perfeitamente identificado: pistas um tanto perigosas...

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FONTES:

Recortes de livros didáticos não identificados.

F I M

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 07/09/2018
Código do texto: T6442078
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