Sete de setembro
Sete de setembro
Acordo com o rufar de tambores. Abaixo da minha janela vejo o grande movimento de pessoas seguindo em direção ao local onde acontecerá o desfile. Quero como todos os anos sair às ruas, mas meu espírito físico supera
o cívico e fico na cama aproveitando o feriado.
O barulho aumenta diminuindo proporcionalmente a chance de voltar a dormir. O sol mais forte entrando pelas venezianas, incomoda bastante espetando-me as pálpebras. Espero mais um pouco para só então deixar o quarto. Após o café, pego uma camisa da seleção canarinho e desço pensando ainda em chegar a tempo de ver o final.
Calor intenso.... O vai-e-vem de fardas diz que o desfile está terminando, na calçada procuro um lugar para ver melhor, posicionando-me atrás de algumas pessoas de menor estatura. O que eu queria mesmo era ver
o desfile militar, de longe o mais interessante para quem prestou serviço militar e vivenciou de perto a vida na caserna que desapertou em mim, o fascínio pelo armamento bélico.
Acompanho com atenção, mudo diversas vezes de lugar, mas a quantidade de pessoas, dificulta cada vez mais a visão. Saio da aglomeração indo até o setor onde fica o palanque oficial, porém, é esforço em vão devido ao aumento dos expectadores, e a disputa por um lugar.
Passa à minha frente dois escravos ladeados pela Princesa Isabel, afinal é o dia certo para lembrar da abolição, que talvez venha se concretizar com a promulgação da nova carta que garante direitos ao povo até hoje massacrados pelos poderosos e suas leis.
Percorrido algumas quadras, vejo que a rua está tomada literalmente! Como quem dirige em contra mão, tento abrir caminho entre as pessoas, tarefa quase impossível, não e fácil remar contra a maré. Para não fazer perguntas a estranhos, procuro em cada rosto algum conhecido. Desisto, continuando em progressão lenta, ouço a resposta de um agente de trânsito e deixo-me afinal ser levado como um barco avenida abaixo...
Alguns estudantes com bandeiras instrumentos e uniformes coloridos formavam grupinhos isolados. Pequenas ilhas contornadas pela negritude de cabeças que tangidas pelo forte calor, voltavam para casa.
Já não é a mesma “semana da pátria” cada ano há menos escolas nas ruas, e as poucas que aparecem mandam só pequenas representações...
E as bandeirinhas?
Vejo poucas, algumas até dobradas servindo de leque para amenizar a alta temperatura.
Não se ouvem mais nas rádios aqueles belos hinos cívicos. Quando estudante, começávamos os ensaios em junho, intensificando-os com a chegada do grande dia, data em que a urbe vestia-se de verde e amarelo.
Esforço-me parta segurar o assobio do hino nacional, mas me rendo ao som estridente e acabo entrando no ritmo do “de uma música pop tocada por componentes de uma banda marcial causando enorme euforia.