Lavando a alma
Procurando, cá com os meus botões, compreender as atitudes da lágrima.
Não pretendo acusá-la de ser integrante de um mix emocional de ostentação, carência afirmativa ou inconveniência.
Mas, ela é danada.
Surge irrigando nossos olhos, durante uma informal conversa; intromete-se nos encontros de saudosos amigos e até tem pausado entrevistas de emprego.
Sem avisos, brilha revelando as nossas contradições, amarguras, dilemas...
Dinâmica e solidária, a lágrima é o suprassumo d'alma.
Voluntária e indiscreta, não respeita ambiente.
Quebra protocolos, seja qual for a cerimônia.
Ela não está, essencialmente, relacionada à tristeza, somente. Repetidas vezes, nos surpreende, contrapondo-se àquela sonora gargalhada ou àquele íntimo pensamento bem nosso; só nosso!
Enfim, o que percebi, após o meu ingresso no seleto grupo sexagenário, é que em mim, a lágrima, ficou mais fácil de ser manifestar. Rapidamente aflora.
Penso que encontrei a razão pela qual a lágrima gosta tanto dos rostos maduros, experientes, vividos...
Esse líquido salgado, incolor e morno, traz a lava do nosso vulcânico íntimo; invade os nossos traços faciais, formando pequenos rios de emoção, quase que perenes. Deixam, quando se ausentam, resíduos de sentimentos vários nos leitos das nossas marcas do tempo.
Será que a lágrima considera-se menos nobre? Sonhava ser água?
Concluo confessando que, a cada dia, fico mais familiarizado com essas gotinhas foxiqueiras e denunciantes de coisas que, nem sempre, temos coragem de expressar.