A Primeira de Nós
Quem foi essa mulher? Como viveu? Foi mãe? Teve família, companheiro?
Certamente uma sobrevivente que nos precedeu, que caminhou sobre a terra a procura de subsistência e aconchego como a grande maioria ainda hoje.
Viveu pouco e a única coisa que conseguiu, na sua curta estadia sobre este solo mãe gentil foi um descanso quase eterno. Então encontrou seu agasalho na terra seca, macia e bruta; na proteção da gruta de calcário se eternizou em berço esplêndido onde não chovia nem fazia sol para queimar sua pele escurecida e castigada pela vivência ao ar livre.
Onze mil anos. Alguns disseram doze, outros disseram treze, mas de qualquer modo é um somatório que minha cabeça quase não alcança, já que nunca fui boa aluna em matemática e estatística. E depois desse tempo infinito seu túmulo foi profanado e desonrado em nome da ciência e da curiosidade mórbida daqueles que se acham no direito e na obrigação de nos dar satisfação sobre nossa ancestralidade.
A tornaram célebre, viajou, conheceu pessoas, estampou capas de revistas, jornais, protagonizou documentários, ficou famosa, o sonho de consumo contemporâneo de muita gente. Badalou por lugares nunca antes imaginados.
Não sei se ficou satisfeita com a imagem grosseira que fizeram dela, pois computadores não têm alma, não pensam por si próprios e apenas supõem assim como nós que muitas vezes supomos e julgamos achando que sabemos de alguma coisa.
Supondo e formulando hipóteses criaram uma história para ela porque todos temos uma história, bonita ou feia, tanto faz, o destino é o mesmo.
A única coisa certa é que nasceu e milagrosamente conseguiu amadurecer até o auge da juventude e durante esse tempo viveu a procura de alimento e de um teto, vagando pelos sertões cruéis e nada românticos, dispersos sobre a face desse gigante, sem glória e sem futuro.
Ela tão somente foi a primeira de nós, a primeira de muitas que veio e que se foi sem nem saber o porquê ou para quê.
Depois foi levada, usada, manipulada, exposta, analisada e posteriormente trancafiada a título de proteção, deixada hermeticamente fechada em solidão.
Nenhuma novidade até agora pra mim.
Alguém pode morrer duas vezes de morte morrida?
Choro pela morte de todas as mulheres famintas, degradadas, amedrontadas, maltratadas pela vida, assassinadas por esta sociedade involutiva.
Esta semana eu chorei também pela segunda morte de Luzia.
Quem foi essa mulher? Como viveu? Foi mãe? Teve família, companheiro?
Certamente uma sobrevivente que nos precedeu, que caminhou sobre a terra a procura de subsistência e aconchego como a grande maioria ainda hoje.
Viveu pouco e a única coisa que conseguiu, na sua curta estadia sobre este solo mãe gentil foi um descanso quase eterno. Então encontrou seu agasalho na terra seca, macia e bruta; na proteção da gruta de calcário se eternizou em berço esplêndido onde não chovia nem fazia sol para queimar sua pele escurecida e castigada pela vivência ao ar livre.
Onze mil anos. Alguns disseram doze, outros disseram treze, mas de qualquer modo é um somatório que minha cabeça quase não alcança, já que nunca fui boa aluna em matemática e estatística. E depois desse tempo infinito seu túmulo foi profanado e desonrado em nome da ciência e da curiosidade mórbida daqueles que se acham no direito e na obrigação de nos dar satisfação sobre nossa ancestralidade.
A tornaram célebre, viajou, conheceu pessoas, estampou capas de revistas, jornais, protagonizou documentários, ficou famosa, o sonho de consumo contemporâneo de muita gente. Badalou por lugares nunca antes imaginados.
Não sei se ficou satisfeita com a imagem grosseira que fizeram dela, pois computadores não têm alma, não pensam por si próprios e apenas supõem assim como nós que muitas vezes supomos e julgamos achando que sabemos de alguma coisa.
Supondo e formulando hipóteses criaram uma história para ela porque todos temos uma história, bonita ou feia, tanto faz, o destino é o mesmo.
A única coisa certa é que nasceu e milagrosamente conseguiu amadurecer até o auge da juventude e durante esse tempo viveu a procura de alimento e de um teto, vagando pelos sertões cruéis e nada românticos, dispersos sobre a face desse gigante, sem glória e sem futuro.
Ela tão somente foi a primeira de nós, a primeira de muitas que veio e que se foi sem nem saber o porquê ou para quê.
Depois foi levada, usada, manipulada, exposta, analisada e posteriormente trancafiada a título de proteção, deixada hermeticamente fechada em solidão.
Nenhuma novidade até agora pra mim.
Alguém pode morrer duas vezes de morte morrida?
Choro pela morte de todas as mulheres famintas, degradadas, amedrontadas, maltratadas pela vida, assassinadas por esta sociedade involutiva.
Esta semana eu chorei também pela segunda morte de Luzia.