A CALMA, A PAZ. 13
A calma da eternidade, onde não há sofrimento, doença ou morte, não está tão longe como pensamos. Podemos ouvir seu silêncio confortador sem mergulhos meditativos interiorizados pela introspecção, distantes do burburinho do nada ao qual nos entregamos no quotidiano, que assalta nossas emoções mais nobres não as deixando se expandirem, esvaziando o sentimento que deve ser sentido, esvaindo as forças que sedimentam o lado positivo da vida, fazendo sombra da luz que queremos enxergar e a correria nubla, não permitindo o acesso à calma por todos desejada.
Não é preciso estar diante do “bleu de Chartres”, famosos vitrais da histórica Igreja de Chartres, que emociona, vendo as pedras de seu vestíbulo, gigantescas e em declive, para facilitar lavagem onde dormiam centenas de peregrinos, catedral fantástica tantas vezes reedificada, devorada pelo fogo restando a imagem e o véu de Nossa Senhora ou na imensidão do Templo do “Vale de Los Caídos” em Toledo, Espanha, onde cada pinheiro conta a morte dos que ali tombaram, ou diante do igualável dom de Bernini em Roma exposto pelo “Extase de Santa Thereza D’Avila”, ou na pequenina Igreja de Santa Maria del Popolo que poucos visitam na cidade eterna, para deleitar-se com “A Crucificação de São Pedro” ou com “A Revelação de São Paulo” do mestre Caravaggio, ou em tantas outras igrejas, templos de tantas revelações, para estar próximo da calma da eternidade, basta entrar em qualquer Igreja, mesmo em frente a grandes avenidas de tráfego intenso, em templos vazios, que se poderá ouvir a calma da eternidade.
Essa calma invade nosso espírito sem necessidade de esvaziar-se o pensamento pelas técnicas meditativas, toma posse integral de nosso ser, o silêncio do desconhecido, independente do credo a que nos entregamos ou ao culto dos ícones presenciais esculpidos e expostos aos devotos.
Estamos “vis a vis”, face a face ao que todos procuram mesmo sem consciência da procura, a paz. Somente não percebemos pela entrega diária às futilidades que passam, sem centrarmos nosso cérebro nas grandes questões maiores que vão desenhando a cena da humanidade e não se dirigem a exterioridades. Ninguém encontra paz na desarmonia que reina no mundo se não se volta para abordagens maiores que não se dão na interlocução humana, mas no mergulho impositivo e necessário ao nosso interior, longe de questiúnculas frágeis que não resistem à lógica comum.
É essa paz que traz o descanso, a mesma paz que o corpo e a mente cansados encontram no sono, necessário e vital, a mesma paz que o espírito solto do corpo vai encontrar no desconhecido e que passa pela audição diária de seu sacrário, a alma, o coração; essa a supremacia da grande energia que recepciona e doa a calma absoluta, eterna, a mesma que nos foi legada pelo dom da vida e lacrada de inacessibilidade à inteligência da criatura, segredo do criador.