Domingo frio
Domingo frio
Pois! Era um belo domingo, céu transparente em azul puríssimo.
Barba grande, cabelos grisalhos, e só usando uma camisa de malha, sem mangas compridas, o distraído homem prestava atenção aos bonitos pedaços grandes de carne que iam assando vagarosamente na churrasqueira.
A bebida destes momentos costuma ser cerveja, mas no caso era um tinto de melhor qualidade. Alguns pingos já haviam caído na sua camisa. O aspecto não é dos melhores, mas faz parte. Depois tomaria banho mesmo, a carne na brasa que fora acesa a partir de alguns pedaços de madeira, dá este cheiro de defumado onde passa.
Alpendre agradável, bem protegido, e a tal churrasqueira feita por Osório, Mateus ou Pinguço, famosos na arte, estava dando lugar a uma moderna e prática que agora esqueço o nome. O ar frio não incomodava o nosso homem, que pelo visto entendia muito bem do ofício. “Ora, churrasco é muito fácil de fazer”, dizem muitos. Engano. Não é não. A carne deve ser escolhida. Há os que gostam de gordurosa, e seus ‘opositores’. Gordurosa, a melhor é maminha de alcatra mesmo, haja colesterol! Mais seca, o mignon. Mas o charme mesmo é a picanha: era um bom corte que estava assando, na brasa de muito antes preparada. O odor inundava toda a redondeza, que talvez gostasse de estar presente. Gostasse ou gostaria? Ora, que diferença faz, verbo com carvão, carne, Sol bonito, a amada perto, trazendo vez por outra o destilado que fazia dueto com o tinto e esperava a picanha tomar a cor terra-de-siena queimada?
Coisas simples, ao alcance de todos, e um prazer da gota serena. Ah! Sei que a expressão é nordestina. E daí?
Afinal, este é o país das etnias, do negro ao caucasiano, do flamenguista ao são-paulino, e tantas, tantas outras coisas mais! Ruim é o umbandista com o evangélico. Fazer o quê?
“Servido, compadre?” e apresenta uma fatia da picanha. A fumaça cheirosa continua subindo aos céus...