A morte de um povo
Uma espécie, um povo, um ser humano, não morre quando o seu corpo morre, morre quando a recordação, a memória que temos dessa espécie, povo, pessoa morrer.
A espécie humana tem a sua memória registada em discos nas naves Voyager, lançadas nos anos 70, e que, muito provavelmente estarão algures no Universo quando a nossa espécie se extinguir. Nelas estará tudo o que fomos, tudo o que sonhámos, nela estará nossa memória, que poderá durar milhões de anos, ou mesmo para sempre, ou pelo menos até ao fim do Universo. Mas se algo de trágico acontecer, e as naves forem destruídas, nós seremos destruídos com elas.
Escrevo isto porque ouvi, que no incêndio do Museu Nacional no Rio de Janeiro, arderam os únicos registos sonoros que existiam de uma tribo de índios brasileira já extinta.
Perdoem-me se ofendo alguém, mas para mim a maior tragédia deste incêndio não foi a destruição do seu valiosíssimo espólio, a maior tragédia foi a destruição dos sons deste povo, porque a sua destruição significou a morte do povo, o seu fim efectivo. Porque para mim tudo pode ser substituível menos um ser humano, porque somos seres tão únicos que somos o nosso bem mais valioso, embora insistamos em desprezar esse bem, essa riqueza.
No dia 2 de Setembro de 2018 a humanidade não perdeu apenas um museu, a humanidade perdeu, para sempre, uma parte de si...