A Pureza dos Sentidos
Como invejo aqueles que entregam ao travesseiro as preocupações do dia e dormem tranquilos e em paz.
Como admiro os que após o fragor das emoções seguem adiante sem feridas ou cicatrizes.
Como respeito aqueles que não guardam mágoas da ofensa recebida e abrem um sorriso para o agressor.
Nem sei o que pensar daqueles que cedem no debate, para evitar o desgaste emocional, por simples pureza dos sentidos.
O que dizer dos que agem como ovelhas mansas e humildes,
mesmo convivendo com lobos vorazes....
Parecem-me todos tão frágeis, tão indefesos, que sinto vontade de protegê-los, mesmo contra sua vontade.
No entanto eles continuam sua jornada de paz, felizes, sem se importar com os pingos de lama e a matilha que rosna feroz.
E eu me vejo à beira da estrada, como guerreiro inútil e ineficaz, de armadura tosca, lança e escudo quebrados, totalmente fora do contexto.
Talvez, em meu delírio, só existam moinhos de vento, em lugar de dragões e princesas a serem salvas.
Talvez, como na fantasia de Cervantes, o único perigo que se apresente, seja o de um velho cavaleiro, perdido no tempo e no espaço.