BENEFÍCIO OU PREJUÍZO AO PRÓXIMO?
Muitas vezes sinto-me na condição de réu por ter rompido o compromisso de fidelidade que mantinha com minha primeira esposa, aquela com quem casei e que prometi no altar ser fiel até o fim das nossas vidas. Sei que sempre mantive o meu pensamento, minhas convicções associadas em fazer o bem, em trazer benefício ao próximo. Então, por que ter sido infiel ao meu compromisso de casamento se isso iria trazer prejuízo para minha esposa? Esta é a acusação que até hoje pesa sobre minha cabeça como uma espada de Dâmocles, um fio de decisão que pode me jogar no inferno ou no paraíso. A minha consciência apresenta argumentos que até hoje me inocentam e mais uma vez os colocarei aqui para que meus leitores façam o papel de jurados dentro deste tribunal virtual.
Aprendi as lições de Jesus, do “Amor Incondicional” e do “fazer ao próximo aquilo que desejamos seja feito conosco”, como as maiores diretrizes para o meu comportamento, pois fazendo assim eu estaria construindo dentro do meu coração as condições de ser cidadão do Reino de Deus.
Foi dentro deste contexto consciencial que fiquei dentro de um entorno situacional com minha colega de trabalho, uma enfermeira sensual que dava plantões noturnos comigo quando eu ainda era acadêmico de medicina. Nós ficávamos juntos, sozinhos, na sala de atendimento quando não tinha ninguém, e ela fazia convites para sairmos e namorarmos, e que isso seria muito bom para nós. Ela sabia que eu era casado, tanto quanto eu sabia que ela também era casada. Ela dizia que o seu marido a traia e por isso não sentia remorsos pra sair com quem desejasse. Eu dizia que não era possível, pois não queira trair a minha esposa, pois ela também não me traía. Foi criado o impasse.
Acontece que os convites eram repetidos a cada plantão, associados a imagem sedutora e as palavras afetuosas. Colocava os argumentos que isso seria muito bom para nós, que tanto ela como eu iríamos ter muito prazer, e que os respectivos companheiros não precisavam saber o que estava acontecendo.
Foram esses argumentos que ela colocava que entravam na minha mente e se misturavam na minha consciência com as lições do Cristo que eu queria seguir. Imaginava o seguinte: se minha esposa me ama incondicionalmente, como eu procuro a amar, então ela deveria se sentir feliz por eu sair com minha colega para namorar e sentir prazer com isso; se ela estivesse na minha condição, eu teria prazer em vê-la sair para namorar com outro? Neste ponto do raciocínio o meu paradigma machista não permitia, eu não iria me sentir bem. Então, o ponto chave para eu não sair com minha colega para namorar, era porque eu era machista e não me sentiria bem se a minha esposa tivesse o mesmo comportamento.
O duelo consciencial passou a ser a partir desse momento, desejo instintivo do sexo por minha colega que neste ponto já estava forte, versus o sentimento machista dentro dos meus paradigmas que sempre também foi forte. Mas o sentimento de justiça dentro da minha consciência não permitiria que eu fizesse uma ação que lhe contrariasse.
O instinto sexual mostrou a sua força no embate com o sentimento machista. Chegou o momento que ele “foi à lona”, o machismo foi derrotado e agora eu poderia me sentir bem se minha esposa saísse para namorar com outra pessoa, pois eu queria agora namorar aquela minha colega, e “essa era condição para não desobedecer às lições do Cristo”.
Saímos para namorar diversas vezes, todas foram muito boas, não tínhamos culpa na consciência. Para mim existia apenas um problema: a exigência da verdade. Eu não poderia mentir para minha esposa sobre o que estava acontecendo comigo. Mas eu poderia omitir. Aprendi também que a verdade deveria ser colocada nos momentos mais convenientes e se fosse construtiva para o próximo. Eu sabia que essa verdade iria trazer sofrimento para minha esposa, e, portanto, eu não poderia dizer o que estava acontecendo de forma gratuita. Mas chegou um dia, quando eu já havia deixado de sair para namorar com minha colega, pois havíamos deixado de trabalhar juntos, quando minha esposa de forma curiosa e sem nenhuma maldade ou desconfiança me perguntou inocentemente: tu terias coragem de me trair? Eu sentia que não era traição o que eu fazia, pois já havia ajustado o meu pensamento à situação, mas sabia que para ela sim, era traição. Por isso a verdade se impôs à minha consciência e eu disse que sim, e que já havia saído para namorar com outra pessoa.
Agora, ao rever mais uma vez esse momento crucial, vejo que cometi uma inabilidade no uso da verdade. Ela não estava me perguntando sobre o passado e sim sobre o futuro. Eu poderia simplesmente responder que sim, que poderia namorar com outra pessoa no futuro e aí poderia colocar meus argumentos sem tanta decepção como aconteceu. Com tantas consequências como daí sugiram e que até hoje estou dentro delas.