COISA DE ESCRITOR.

Acordei cedo, em geral, acordo cedo, mas nessa semana eu havia extrapolado os meus horários matinais. Não era minha intenção, contudo, diante de meus pensamentos e preocupações, foi impossível dormir um pouco mais. Era uma dessas manhas durante a semana, e costumeiramente, como sempre faço, liguei o rádio primeiramente, ajustada a estação de minha preferencia, propus-me a fazer o café. Com a caneca de alumínio nas mãos derramei-lhe água pela metade, coloquei duas medidas de açúcar, apanhei o coador, deixei-o prontamente ao lado da garrafa, já com a medida correta de café. Enquanto a água não entrava em fervura, fiquei preso em meus pensamentos. De repente, minha esposa irrompeu o meu silêncio, cumprimentei-a com um doce beijo, sem perca de tempo ela lançou-me a seguinte pergunta.

- Que cara é essa? Parece preocupado, pensando na morte da bezerra. Disse ela sorrindo.

- Acertou meu amor, estou sim preocupado.

- Pois diga homem, o que te inquieta.

- É Rute quem me preocupa, tira-me o sono.

- É quem? Perguntou ela cravando-me os olhos como chamas de fogo.

- Veja bem amor – Prossegui no mesmo tom de voz e tentando manter a calma – Rute, moça direita, sempre trabalhou certinho, só que, está metida em uma tremenda enrascada, e não tenho a mínima ideia em como ajuda-la.

- Mais que história é essa de Rute...

- A Rute, como eu estava dizendo, tem um colega, eles trabalham na mesma fábrica. O rapaz é um moço direito, bonito, essa semana ele sofreu um acidente, bem de frente ao bar do Geraldinho.

- Bar de quem?

- Então... Pobre do rapaz, foi atropelado, Rute prontamente o socorreu, levou-o para o Regional, graças ao bom Deus não houve maiores problemas. O único infortúnio foi à perda da memória, ele não conseguia se lembrar de nada o coitado. Mas algo milagroso aconteceu meu amor, Reginaldo recobrou a memória, mas nem tudo são flores viu. Veja só que lastima, Reginaldo estava noivo, acredita, noivo, a moça reside em Minas, ela mudaria para São Paulo assim que eles se casassem. Ela e os pais de Reginaldo estavam a caminho, ficaram preocupadíssimos com o rapaz. Só que… Algo ruim aconteceu… Uma tragédia na verdade, um acidente terrível, acidente esse que ceifou a vida da mãe, pai, primo, e noiva de Reginaldo. O verdadeiro problema veja que complicação, é que ao recuperar a memória, eu não sei te explicar como, a mente de Reginaldo bagunçou tudo, a amiga, Rute, na cabeça dele é a noiva. E agora Rute está muito enrascada, ela está morta de medo de contar a verdade ao amigo, e está se fazendo passar pela noiva. Por isso estou preocupado meu amor, eu não sei como ajudar Rute, não tenho a mínima ideia do que fazer.

- Mais que negocio é esse de Rute, de Reginaldo, que perdeu a memória, que ganhou depois… Que merda toda é essa?

- Calma meu amor, calma, perdoe-me por não te explicar, acontece que esse é o meu novo romance, em que estou trabalhando ultimamente, não é nada de mais, coisa de escritor.

- Coisa de escritor... Sei... Eu ainda perco meu precioso tempo te ouvindo... Mais agora, negocio é esse de Rute...

Continuei em meus pensamentos e inquietações, enquanto minha esposa degustava o seu pão assistindo sua série preferida na net flix, tomei uma boa xicara de café, que a essa altura já estava coado, aumentei o volume do rádio, tentando sem sucesso, empreender em meus pensamentos qualquer solução para o caso de Rute, que ao que parece, está longe de se resolver. Fazer o quê, coisa de escritor.

Tiago Macedo Pena
Enviado por Tiago Macedo Pena em 01/09/2018
Reeditado em 01/09/2018
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