O desejo de ter

Luquinha, como era chamado pela mãe, brincava na sala com um carrinho bem bacana. Mas foi só o primo chegar e ele quis o brinquedo do Matheus, um cubo de borracha, apropriado para o bebê de 6 meses. O mais novo chorou ao ter arrancado de suas mãozinhas, aquele emborrachado babujado e apesar de todos tentarem fazer com que Lucas devolvesse o brinquedinho, o menino de cinco anos se fazia de rogado. Fingia não ouvir e se mostrava relutante aos apelos da mãe e da tia.

O bebê chorava irritando os homens ali que, como de praxe, não mostram nenhuma paciência nessa situação.

O pai chegou na sala e tomou o cubo do garoto e aí que a coisa ficou feia mesmo. Agora eram duas crianças aos berros pelo mesmo pedaço de borracha.

Por fim, apareceu um chaveiro iluminado e o bebê passou a sorrir ao tentar alcançar o bibelô na mão da tia e todos se deram por satisfeitos.

No canto da sala Lucas olhava o priminho. Deixou o cubo e o carrinho no tapete e se aproximou do chaveiro com olhos de encantamento. E aí recomeçou toda a cena...

O avô saiu do banho e veio ver o que acontecia, percebeu o ciúme do neto mais velho e sugeriu um passeio no quintal para ver os passarinhos que ele mantinha em gaiolas há muito tempo. Eram aves de raça pura e o xodó daquele sessentão. O menino abraçou o avô como se fosse o seu salvador e saiu da sala dizendo:

- Você vai me dar o seu passarinho, vovô?

O avô fingiu não ter ouvido o pedido do menino e torceu para que ele não fizesse pirraça novamente.

Cláudia Machado

Nota: Ensinamos pelas costas, ou seja, nosso comportamento passa de pai para filho. As gerações vão repetindo o padrão. O desejo de ter, de controlar, de se apegar são sentimentos que aprendemos, absorvemos e incorporamos. Aqui está representado pelo avô com seus apegos que foi sendo passado de geração a geração.

Cláudia Machado
Enviado por Cláudia Machado em 31/08/2018
Reeditado em 01/09/2018
Código do texto: T6435810
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