Nada de se expor.
Houve um tempo na Ford, lá pelos anos 2001 ou 2002, em que eu dividia um cercado de divisórias com mais dois colegas, cada um tinha a sua tarefa na área comercial; eu fazia a linha química. Trabalhávamos muito, o dia inteiro sem parar, hoje esse trabalho é feito pelo triplo de pessoas , e com muito mais recursos.
Meu horário de expediente se iniciava às 8;00h, mas chegava sempre um pouco antes, meia hora pelo menos, quando tomava um café tranquilo, lia as notícias e batia um papo descontraído com os parceiros, isso ajudava a começar melhor o dia. Mesmo antes do horário o telefone já tocava bastante, só que não tínhamos obrigação de atender. Às vezes até atendia , mas não achava respeitoso.
Como disse , o dia corria à prova de balas, atendíamos usuários e fornecedores, pessoalmente e por telefone, e também fazíamos as tarefas, visitávamos empresas e viajávamos quando necessário, era um trabalho duro e estressante, onde se lida com todo o tipo de gente.
Dos três eu era o que menos levava desaforos, e com o tempo as pessoas passaram a manter o respeito exigido; disciplina se impõe.
Não pensem que eu era mal humorado, nada disso, ao contrário , um briguento bem sarcástico , contador de "causos" sobre os caras esquisitos que me apareciam para atender, e ríamos muito também.
Quando a minha esposa ligava , ou alguma das minhas filhas, sempre atendia bem, falando o mínimo possível e baixo, na base do "hum hum...tá certo, pode deixar...e você ...", coisas assim, sem deixar escapar muita coisa do meu particular.
Um dia o Carlos, um dos meus colegas de "cela", que também era psicólogo, me disse; " Aragón, eu noto o cuidado e o respeito que você tem com a sua família ao telefone, às vezes vocês está bravo devido os assuntos da Produção, e mesmo assim se contém , nem parece a mesma pessoa ".
Respondi que são mundos diferentes, este pertencia só a mim, eles não tinham porque se preocupar com isso, bastava eu. Na verdade eu preservava a minha família ao máximo possível, nem porta- retratos tinha sobre a mesa de trabalho, me parecia que qualquer olhar estranho sobre eles poderia ser nocivo. Poderia ser até exagero meu, na época achava que fosse , até que um dia li uma matéria inglesa falando desse assunto, e pensei ; " bingo" ! - Estou certo.
Quando haviam festas ou jantares externos, levava a minha esposa, e fazia o máximo para que se sentisse bem, a apresentava a todos e ficava todo o tempo com ela, pois aquelas pessoas eram colegas meus , deixá-la sozinha seria uma indelicadeza, e eu sabia disso.
Família e trabalho andam em paralelo, mas não se devem misturar, o profissionalismo não permite, no entanto a prioridade sempre é a família, e cabe ao profissional saber dosar as duas partes, os problemas de fábrica são mais fáceis de consertar, amanhã serão substituídos por outros, a família é para a vida toda.