Sabado a noite

Noite de Sábado

Noite de Sábado; contrariado fiquei em casa, não era meu plano sentar na sala e ver TV. Meu pai me convenceu. Falava que eu não ligava pra família, era egoísta, só pensava em mim, nos amigos, baladas, namoradas.

Naquele sábado fiquei em casa. A família reunida, falando de todo mundo; falavam bem, falavam mal, belo ato social. Mas se calaram de repente, quando começou o “Jornal”; musiquinha de abertura intercalada por aquela gritaria “sensacional” dos apresentadores.

Na tela um coroa calvo, cabelos cinzentos, os pelos frontais ralos dominados a laquê, gravata colorida ajustada no pescoço buscando um ar de jovialidade. Ao seu lado a repórter, jovem exuberante, maneira. O coroa insinuante mal disfarçava a liderança sobre ela; não era ninfeta, mas tinha idade pra ser sua neta.

Minha mana, já de pijama, encostada em meu cunhado, foi logo falando que o repórter fofoqueiro que jamais inventa, anda espalhando, que a repórter maneira, é o calvo da gravata colorida que está “pegando”.

Deram um “close” no cara, deram um “close” na moça; e cada um falava dos fatos recentes; gente morrendo na seca, gente morrendo na enchente, muito lamento; homens, mulheres trabalhando num lixão, até crianças tão novas, tão inocentes, já responsáveis por sua alimentação.

Entra de repente o "Direto da Capital": é “tal e coisa”, é “coisa e tal”, “que tal aí?”. Andam querendo instalar uma nova CPI que vai apurar a notícia que saiu na revista e no final, “tudo vai acabar em pizza”

Finalmente coisa boa, vão falar de esportes, meu assunto preferido, voleibol feminino. Mulheres grandes, gosto do barulho dos tênis na quadra fazendo atrito. Quero saber como está o campeonato, por onde andam aqueles corpos bonitos?

Ledo engano, o comentarista com cara de cigano e sobrenome espanhol, falou, falou, falou e só falou de futebol.

Tem notícia boa; meu velho se animou, a megacena está acumulada. “Vamos fazer uma aposta coletiva”; que tal um bolão, peguem papel e caneta, é a sorte grande batendo a nossa porta. Pessimista, pensei com meus botões, "milhões de otários farão, surgir um novo milionário".

Notícia internacional: o líder cristão mais poderoso da terra está decidido a impedir miseráveis e famintos em seus domínios; "vamos construir um muro".

Tinha um cara com chapéu de boiadeiro gaúcho, barbudo, todo de preto, falando que matava com as próprias mãos outro cara barbudo, que usava na cabeça, um pano preto e branco; seriam as cores da camisa do seu time do coração? Parecia o cachecol de uma tia velha.

Diziam: “A Terra é minha, quando tu chegou, eu já tava lá, quem me deu foi Alá”.

“Tu tava, mas a terra é minha, quem me prometeu foi Jeová”

“Foi Alá”, “foi Jeová”; “foi Jeová”, “foi Alá”

Não vejo a hora desta “joça” acabar.

Raul Correa Barcelar
Enviado por Raul Correa Barcelar em 28/08/2018
Código do texto: T6433015
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