Divorciei
Pois, querida.
Nunca casei, mas estou me divorciando.
A algum tempo acabei criando algumas rotinas pessoais e precisei me desprender das mesmas.
Esse tal de divórcio deve ser mesmo complicado.
Terminando um relacionamento, sempre penso no fim conflituoso. Não combina comigo!
Término, seja por decisão da outra pessoa um tanto perceptível, algo premeditado, seja por decisão minha, precisa ser tudo planejado, trabalhado.
Não gosto de deixar lacunas. Dúvidas, mágoas, por mais que sejam inevitáveis, nada.
Sei lá, ela me diz:
Você é realmente um isso, um aquilo...
Não conseguiria conviver com a imagem deixada, de maneira alguma!
E por tal motivo, eu sempre volto.
Mas de qualquer forma, o problema maior é que não consigo simplesmente virar as costas.
Eu me importo.
Por mais que antes sustentasse a teoria de que independente de qualquer coisa, você não possa confiar que o mundo irá se importar, eu me importo.
Por mais que ainda imagine que a sociedade em sua amplitude de quando você estiver realmente precisando, ninguém irá se importar, eu me sentiria extremamente babaca não me importando.
Como já diz o ditado popular:
"faça o bem sem olhar a quem, e sem esperar nada em troca".
Não de maneira ampla, mas procuro fazer parte do bem que espero para mim.
Progredir nesses feitos diariamente, são sempre minha meta!
Faço o bem, mas seria egoísta dizendo que não espero nada em troca.
Faço, semeio, o que desejo que fosse contaminado o mundo!
Mas, nem sempre é assim que as coisas acontecem.
E não é por isso que devemos desistir!
Porém, pensemos em nós.
E eu, pensei um pouco em mim.
Refleti, me perdi, procurei me encontrar.
Dentre certos pontos, encontrei comunicação.
Mas, quando a pessoa vai embora?
Quando os passos se aceleram, as portas batem, o ambiente silencia?
Eu ligo. Desesperadamente.
Encontro argumentos, justificativas, um meio, um motivo.
Hoje, já entendo o fim com mais claresa.
Mas, precisei me tratar.
Por fim, o que é esse tal divórcio?
Estou aqui, tentando montar minha nova agenda, organizar meus horários, entender que as prioridades que antes eram propriedades conjuntas, nem minhas talvez serão.
Estranhamente, me sinto bem.
Sempre tive o desejo de me isolar do mundo.
Me desligar da sociedade, olhar a vida passar do alto de um prédio.
Cogitei a possibilidade com total fervor, até que olhei para uma manhã de sábado ensolarada lá fora.
Saí.
E, por mais que tenha voltado para o silêncio gritante dessa casa de homem solteiro, não mais penso em me ter só nela.
Tudo muito novo, mas acredito que tudo aconteça quando precisa acontecer.
Adiar esses fatos só fará com que a vida passe, mais rápido.
Lá fora, a vida continua...
Por mais que, não tenha uma companhia como algo viável agora.
Gosto do meu silêncio.
Das minhas ideias, meus livros, meus projetos, meu trabalho.
Sozinho, vou aproveitar para dar uma volta.
Observar mais o brilho do sol, sentir o vento, olhar as pessoas...
A vida passa! E por qual motivo deveríamos nos prender, nos isolar?