O FUTURO

O interior o nome já dizia, era interior, dentro, longe, difícil acesso, assim era a fazenda cajazeiras da minha vó. Pra chegar lá levava-se dois dias, um dia de trem, um pernoite e meio dia de cavalgada. Era longe de tudo, do mundo e de suas tecnologias, ali só existia o sertanejo, um ser forte, resistente e trabalhador, no caso minha vó. Só tinha duas casas, longe uma légua do primeiro lugarejo, que dito lugarejo distava 6 léguas da cidade mais próxima, isso com estradas precárias. Na casa ao lado da minha vó, morava minha bisavó, e seu filho, seu nome era Pedro, era um homem do futuro, pois embora morando ali no meio do mato, ele tinha coisas que só nas grandes cidades tinham naquelas épocas, coisas como vitrola, rádio, luneta, relógio e um gerador de energia, movido a gasolina. Ele era o homem da tecnologia, e eu pensava nele como um cientista dos livros de ficção. Todo dia o gerador era ligado, e a energia brotava na casa da minha vó, de longe naquele vale se via as duas casas iluminadas, e o som do motor chegava à serra e voltava em forma de eco. Tudo ele tinha, alicate, serra, ferramentas e utensílios, era um homem do futuro, um engenheiro formado na escola da vida. De manhã eu escutava a rádio de Cuba, eu achava Cuba o melhor país do mundo, ele somente sorria. Depois ele colocava um disco de vinil 78 rotações na vitrola, ai a música enchia a casa da bivo e chegava na casa da minha vó, Era uma alegria só. De tarde ele sempre mexia com mecânica, no armazém ao lado da casa, ou com o motor do gerador, ou com os arados, ou amolando foices e fações. Também conservava selas e utensílios de couros, como gibão e cintos. Sempre aparecia com novidades, uma peça nova, um objeto novo, algo que ninguém conhecesse. De noite, quando o gerador era desligado, o céu iluminava o sertão e as estrelas e astros se multiplicavam no céu, ele pegava sua luneta e ia observar os astros. Ele sabia de todas as estrelas, de toda as constelações e onde ficava o sul, lá no sul era onde o futuro morava, eu pensava.

O FUTURO

FRED COELHO 2018

Fred Coelho
Enviado por Fred Coelho em 28/08/2018
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