PODE DEIXAR, HOJE A LOUÇA É MINHA
Desde a mais tenra infância ouvia dos mais velhos algo que me incomodava, eram muitas frases soltas, mas que levava a um sentido muito pejorativo com relação as mulheres, e o que é pior, era um discurso também difundido pelas próprias mulheres, pois era algo “comum” e aceito socialmente, mesmo que houvessem algumas indo de encontro a essa avalanche de papéis predefinidos entre homens e mulheres.
Minha mãe era uma dessas que ia de encontro a essa corrente de pensamento e por isso algumas vezes ouvir que ela ainda transformaria seus filhos em “maricas”, “bichinhas”, entre tantos outros termos pejorativos utilizados naquele contexto. Porém ela respondia a nós filhos da seguinte maneira: “Um dia vocês irão precisar disso e não vai ser um simples trabalho doméstico que guiará os rumos de suas sexualidades.
Assim se fez e todos os filhos aprenderam o mínimo para não serem dependentes mais tarde como ela observava a dependência de meu pai em relação aos trabalhos domésticos, logo a ela.
É, mas o machismo sexista não se mantém apenas nesse aspecto e espaço, a mulher era sempre me repassada de uma forma negativa, aquela que através de sua “burrice” trouxe o pecado ao mundo, trouxe o atraso a humanidade. Maldita Eva que fez com que Adão caísse nos laços do demônio e, por isso expulsos do paraíso.
Bem, não vou me alongar nesse “infeliz” infortúnio para não entrar em choques de ideias com quem acredita no tal mito. O que me interessa aqui é de como a figura da mulher fora distorcida ao longo da existência humana, a mulher se torna ser de “segunda categoria”.
Mas como me fazer acreditar nisso? Como me fazer crer em que a mulher seria esse ser tão “frágil” e até certo ponto demonizada se elas eram as pessoas mais importantes em minha vida, minhas avós, minhas tias, minha mãe que me deu a vida, minhas irmãs? Então contestei contra o mito do pecado. Sim, posso estar errado, se tiver assumo o meu erro, mas penso não está.
Já em minha meia idade cada dia mais tenho convicção que minhas angústias não estavam tão erradas, a mulher conquista a cada dia mais seu lugar de fato e merecido.
Ah, sim, haverá quem me diga: Mas a mulher não tem a força física de um homem, a mulher isso, a mulher aquilo. Certamente quem dirá isso nunca parou para observar a força física e intelectual delas, muito menos procurou estudar anatômica e fisiologicamente as mudanças hormonais da mulher.
Sim, concordo que há papéis entre homens e mulheres, porém estes são socialmente criados, assim como há papeis biologicamente diferenciado entre os sexos, mas o cerne maior do meu pensamento é deixar claro que esse ser “frágil” e quase “demonizado” é tão parecido com o “macho alfa” no sentido de poder intelectual que seria inútil tentar explicar a quem não tem a mínima vontade de adentrar ao conhecimento.
Hoje percebo a luta diária das mulheres as quais tenho a oportunidade de acompanhar. Quando chego em casa cansado e percebo que essa que faz parte do meu dia a dia ainda tem vigor de fazer o jantar, colocar roupa para de manhã cedo antes de sair, lavar, se preocupar com vários detalhes, e ainda estudar. Esse vigor físico já vi nos meus tempos de criança ao observar minha mãe após chegar a tarde da roça e ainda cuidar do jantar para seis filhos.
Hoje eu estou cansado, mas não há como não me inspirar nessas grandes e fortes mulheres que fazem parte da mina vida direta ou indiretamente. Não, aqui não se trata de endeusar ou romantizar, apenas “Dá a César o que é de César e a elas o que é devido” e que fora usurpado durante tanto tempo. Não, não se trata de eu ser feminista, trata-se de dá-la o direito conquistado todos os dias com tanto amor e carinho.
O homem que me tornei deve-se em grande parte a mulher que me colocou no mundo e me educou para enfrentar os obstáculos e conquistar o mundo. Como eu teria a audácia de demonizá-la? Com que cara de pau eu poderia dizer que as mulheres são seres frágeis depois de tanta observação a esses seres humanos maravilhosos?
Hoje eu só quero ter a força de chegar em casa e dizer a “minha” companheira: Nunca teria o mesmo vigor que você tem, mas por favor, pode deixar que hoje a louça é “minha”.
Joel Marinho