"MINHA CASA, MINHA VIDA" NÃO É PARA OS POBRES



Lourdes, minha secretária doméstica, conseguiu financiar um apartamento (no Condomínio "Contigo em la distância") junto com o seu companheiro de união estável, sr. Cardoso. A soma de suas rendas é de R$ 1.914,00.  Vão pagar ao banco uma prestação mensal em torno de R$ 600,00: mais ou menos o que vinham pagando de aluguel. Ótimo! Minha mulher e meus filhos fizeram até uma festa para comemorar a feliz aquisição. Isso é que é governo!!!...

Mas a Lourdes vive muito triste, chorando e arrependida de ter entrado nessa "fria"...  Não sobra dinheiro para alimentar o seu casal de filhinhos...

- Por que não sobra, Lourdes?  E quando vocês pagavam aluguel, não era a mesma coisa?...

E ela explica:

1) o valor de venda do apartamento junto à construtora foi de R$ 140,000,00;

2) o banco o avaliou por R$ 100.000,00 (logo, ela está pagando por fora, extra-contrato, a importância de R$ 40.000,00);

3) o governo federal concede uma ajuda de R$ 21 mil, dentro do programa "Minha casa, minha vida", e lhe financia R$ 79.000,00, no prazo de 360 meses, prestações iniciais de R$ 600,00, com reajustes anuais;

4)  pelos R$ 40.000,00 da usura, ou melhor, da avaliação excessiva por parte da construtora, dona Lourdes e seu Cardoso estão pagando um prestação nominal de R$ 1.000,00 por mês, com intercaladas nos meses do 13º salário, durante três anos, e ainda com juros de 1% sobre o saldo devedor.

Some-se a tudo isto a despesa com água, energia e taxa condominial. Como pagar? Como alimentar seus filhotes? etc., etc., etc...

Analisemos e oremos:

- se o banco avaliou o imóvel pelo valor "x", por que ficar quieto diante da usura excessiva (x+y) da construtora?

- além do mais, o banco calcula a capacidade de pagamento do mutuário considerando o valor de R$ 100 mil do imóvel;  se levasse em conta o excesso de R$ 40 mil, claro que a capacidade de pagamento do mutuário seria insuficiente;

- o banco assim procede por conta da conivência do governo federal, que não fiscaliza convenientemente os manipuladores do programa MCMV;

- liguem os seus televisores e, daqui a pouco, os senhores leitores verão as potentes construtoras exibindo caríssimas propagandas de suas marcas e, o que é mais dolorido, patrocinando clubes de futebol, principalmente da primeira divisão.

Dona Lourdes tem razão de chorar.  Todas essas despesas de marketing das construtoras e imobiliárias estão sendo pagas com o seu parco salário, com o seu sangue e com os restos anêmicos de seus dois filhinhos. 

Gostaria muito que os senhores presidenciáveis incluissem essa "roubalheira" oficializada nos seus poucos debates na campanha eleitoral de 2018, a fim de anunciarem esperança à minha secretária, como boa parte do operariado brasileiro, ingenuamente explorada.

Muita gente pobre, necessitada de um imóvel residencial, precisa ser alertada quanto a essa enorme diferença entre o valor arbitrado para venda e o valor real de avaliação feita pelo banco financiador.  Lute contra isto.  Exerça sua cidadania. 
   
Fernando A Freire
Enviado por Fernando A Freire em 26/08/2018
Reeditado em 26/08/2018
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