Péssima promessa: arma para todos
Os valentes, quanto mais cruéis, mais temem o sobrenatural. Tremem diante de qualquer alma penada, vagando no escuro; acovardam-se ao se depararem com inofensivo transeunte com aparências de fantasma. Nas terras de Juazeiro, no Ceará, o sanguinário Lampião chorava como criança aos pés do “Padim” Padre Cícero Romão, pedindo-lhe certos poderes, como o de fechar o corpo contra as balas da milícia. Cangaceiros sem fé perdiam a bravura e tornavam-se “prudentes”, medrosos, chegando até a negarem existência àquilo que eles temiam...
Há prepotentes poderosos, somente quando estão diante de fracos e indefesos. Há também os de coragem artificial, que compensam sua fraqueza com armas, barrotes de pau ou tomando vitaminas de cavalo para agigantarem seus músculos. Seus corpos “bombados” são enganosos avisos como se fossem ameaça dos que não têm cachorro, mas fixam na porta da casa: “Cuidado! Cão raivoso”. É um destemor que não vem da natureza, pois a verdadeira coragem não está fora da gente, ela deve estar em nós mesmos. E, à medida que está em nosso interior, ela se interioriza, purifica-se, torna-se consistente e mais revigorada. É uma coragem do domínio da vontade, que também vence o vício e nos eleva a difíceis propósitos. São exemplos disso decisões como parar de fumar; não ingerir droga, não beber antes de dirigir; renunciar a “vantagens” desonestas; desprezar um prazer de consequentes problemas para si próprio e até ofensivo aos outros. Enfim, em vez de uma coragem desastrosa, bem melhor é o medo.
A verdadeira coragem se aperfeiçoa, ao ponto de deixar de ser uma ação violenta para se transformar em ação do equilíbrio. A ataraxia nos submete ao discernimento do que é bom, a atitudes corajosas e tranquilizantes, jamais intranquilizantes como a de armar a nossa população. Geralmente, os “valentes” virulentos preferem a comodidade do uso da força à providência racional da destemida coragem.