Assim é a Vida!

           

            Quando na fase das espinhas, gostaria de ter nascido com um mapa.

            Um mapa de mim mesmo, que a cada passo em minha vida fosse me apontando o terreno seguro e fértil a seguir.

            Teria me poupado de muitas dores, muito sofrimento e, também, do aprendizado essencial – assim acreditava na fase da inocência. Queria além desse mapa ter uma caixinha do tempo, que me transpusesse ao passado, onde poderia deixar recados para mim mesmo.

            Não existe o mapa, não existe a caixinha.

            Tenho acumulado dezenas de cicatrizes em “minhalma” que insistem em não se fechar.

            O que interessa aquele sentimento que tive aos 18 anos?

            O que importam as pessoas cuja amizade não cultivei?

            São sementes, são marcas, são degraus que escalei e venci.

            Deixei todos pelo caminho. Despojos de guerra de uma batalha que nunca termina.

            Se tivesse o mapa, saberia quem encontraria pelo caminho, assim como uma montanha ou ponte que podemos divisar. Não sabemos, mesmo portando o mapa, como é a ponte ou a montanha, mas pelo menos sabemos que estará lá. Também não sabemos o sentimento que teremos ao atravessar a ponte ou ao contemplar a montanha. Talvez queiramos escalá-la, contemplá-la ou simplesmente deixá-la pelo caminho, não importa.

            Contornei muitas montanhas, escalei outras, esfolei-me e deixei algumas ao largo.

            Não sei se o caminho que percorri foi o certo, o mais longo ou o mais bonito – não tenho condições, ainda, de me avaliar – preciso andar mais.

            Não sei o que me espera na próxima curva, no próximo dia, na próxima hora que se dobrará sobre mim, como a vaga de uma onda.

            Hoje, amadurecendo ao peso do caminho, respiro com prazer esse mistério e penso em um Deus, grandioso, detentor de todos os mapas e se ele aprecia saber de tudo e viver sem enigmas a desbravar.

            Enfrentamos nossas Esfinges todos os dias, e, ou as deciframos ou nos devoram.

            Em verdade, à medida que os dias nos atropelam, seguimos colecionando nossas venturas e decepções, desenhando, a próprio punho, o mapa de nossas vidas, sendo cada um uma peça única, portanto rara, que apenas o Senhor de Tudo e de Todas as Coisas pode compreender.

            Sem mapa, sem caixinha, mas com muitas surpresas: assim é a vida!