As folhas que caem.
Não fico contando o tempo, as folhas apenas caem ao pé da árvore, varridas pelo vento.
O calendário vai assim virando as suas folhas, jogando os números pelo chão, num esparramo que não se permite contar. Sou assim; já se passaram tantos anos, e nem os notei, parece que se os conto me pesarão, e não quero um fardo , ao contrário, que sejam a água fresca que me alivie quando não puder caminhar.
Nesta semana precisei acompanhar a minha mulher ao médico, depois fazer seus exames, com toda aquela história de senhas, balcão, chamada pelo nome, três dias ocupados com isso, que vem se repetindo cada vez com mais frequência. Depois no carro, ela agradeceu por eu estar sempre pronto , mas nem precisava , é a minha função como marido, e me preocupo com a sua saúde.
De longe a fiquei olhando, ela estava falando com a atendente do guichê, fomos dos primeiros à chegar, e pontuais como sempre , e pensei ; " Como é pequena e frágil, mãe dos meus filhos e minha companheira de vida ", envelhecemos na cidade como diz a canção do "Ira" . Já teve problemas sérios de saúde, quase partiu em 2010, tem facilidade para embolias, e na época usei todos os recursos que tinha , mas valeu .
Quando voltou ao meu encontro me perguntou ; " guichê", que nome , não é mesmo ? Qual será a procedência ?- Respondi ; " Deve ser francês, como Touchê !". E rimos um pouco à caminho do " doppler". Somos muito companheiros, ela diz que lhe passo segurança, sempre se sente bem quando estou junto, e fico feliz com isso.
Na verdade sou muito paciente com esperas e filas, parece até que nasci no "Tibete", e muito atento com tudo o que está ao meu redor. Leio os painéis, todos os avisos do quadro, vou fotografando tudo com os olhos da mente, e presto atenção no comportamento das pessoas, isso me diverte muito, e acaba me distraindo enquanto espero.
A minha esposa é ansiosa, agora já nem tanto , mas é engraçada até, do tipo que está no carro e fala ; " vire aqui à direita", e às vezes nem dá, porque estou na fila contrária com muitos carros atrapalhando qualquer manobra imprevista. Só lhe digo; " Não dá, a gente vira na outra rua e retorna, certo ?", felizmente sou bem calmo na direção, não me apavoro. Tenho um GPS próprio , que Deus me deu, guardo lugares e percursos com muita facilidade , raramente me perco.
Sempre conto coisas engraçadas, imito o jeito de pessoas esquisitas que vejo e ela acaba rindo , até em lugares que não se pode rir, diz que sou bem humorado , fica vermelha e me manda parar de palhaçada.
Assim vamos vivendo, até que a última folha caia da árvore, como no filme.