Esperando ônibus
De quê você pretende escapar? De quê? Foram cinco horas até aqui, disse um dos que mal conseguiam levantar os pés. As duas jovens e promissoras escritoras se afastaram mais um pouco. Sentaram ao lado de uma grande pedra, que pela posição protegia do sol do meio dia. Renata tentou olhar para o céu. Do que não era azul, ofuscava-se pelo intenso sol, a queimar o resto de força do grupo. Jorge parecia o Kerouac. Paula, a própria Ana Paula, àquela a Cesar. Renato tentava manter a elegância de um jogador de futebol, mas todos sabiam que causariam inveja a Hendrix. Nenhum carro naquela hora. Nenhum desses sacrifícios é suficiente para salvarmos nossas almas, alguém disse. Ninguém soube informar, quem; nossas consciências, talvez. Ainda bem, que se contava com dois promissores políticos. Como sempre foram os mais criativos em encontrar a solução. A solução está em caminhar, disso Henrique. Esse cara é um maldito mesmo e tem futuro na política. Vou ficar, disse Ana Paula. Não tenho forças, foi a opinião de Jorge. Não é que as duas magrinhas ainda tinham uma garrafa de uísque. Cada um tomou um gole. Henrique como o político chefe tentou beber duas vezes. Não conseguiu. Esse maldito, alguém gritou. Cada um trazia consigo papel e caneta. Desenhamos, riscamos algumas palavras. Depois cavaram um buraco. Júlia, que estava escorada. Cedeu uma garrafa fazia – Vejam nossa capsula do tempo. Meia hora depois conseguiram embarcar num ônibus que trazia feirantes. Apesar de mercadorias e animais que se transportavam conseguiram acomodar-se. Por duas horas corria-se apenas paisagens de acostamento, da completa solidão do fim dia. Quem sabe um dia volte ...