[GOSTAR É TÃO COMPLICADO]
A gente conhece alguém. Começa pelo nome, o curso que faz, troca números e daqui a pouco começa a frequentar a casa. Começa a frequentar a vida dele. Conhece os amigos. Conhece a mãe, a irmã, a tia, a avó, o periquito, o cachorro... Conhece os livros que ele lê, os filmes e séries que assiste... E a gente vai frequentando o dia a dia dessa pessoa e quando se dá conta, já se apegou, já começou a gostar e todo aquele nosso discursinho de “ah, eu nunca vou me apegar a ninguém” ou “ah, não quero nada sério” começa a ir por água abaixo. Aí, a gente se dá conta de que não está nessa sozinho, começa a perceber que a outra parte também está na mesma, ou, pelo menos, a gente finge que acredita nisso. O caso é que tudo parece entrar em sintonia, os sinais estão ai e os dois parecem muito apaixonados...
O tempo vai passando e enquanto o gostar vai virando paixão, a gente começa a ver os defeitos que não via antes, mas isso não atrapalha, pelo contrário, é exatamente por esses defeitos que a gente se apaixona ainda mais e vai se deixando levar e se entregando...
Vocês já se veem mais de cinco vezes por semana. Dormir juntos já virou rotina e essa rotina faz tão bem. Há tempos você buscava isso, essa loucura de acordar de madrugada para fazer amor, de irem pro banho juntos, de fazerem aquele almoço de domingo, que já nem precisa mais esperar que o domingo chegue para acontecer...
E tudo vai indo bem, os pares vão se conectando...
E, então, um dia, tudo isso começa a mudar um pouco. Aqueles cinco dias por semana passam a ser quatro, depois três e então vocês começam a se ver somente no final de semana... Fim de período, seminário, prova, o cachorro da vizinha tá doente... Tudo parece ser mais importante e urgente do que estar com você e você vai ficando de lado...
Você começa a perceber os verdadeiros sinais, mas enquanto a verdade não chega, vai se poupando e se contentando...
E, então, em uma bela noite seu celular vibra e você se anima por que a essa hora da noite só pode ser ele/ela te mandando mensagem... E você acertou, era quem você esperava, mas não a mensagem que você esperava...
Em resumo, o texto enorme que você recebeu justificando os “porquês”, quis dizer apenas isso: “não dá mais, é o fim!” e você se pega lendo e relendo aquilo como se quisesse achar um ponto entre as palavras em que tudo não passasse de uma brincadeira, uma pegadinha. Mas, não é! Você não está rindo e sim chorando e você chora e treme e é como se um buraco se abrisse no chão e te engolisse, assim, do nada...
Você pede e implora pra que isso não aconteça, pra que ele/ela não faça isso com vocês, afinal, o que vocês têm é lindo, é único, é intenso... Bom, pelo menos, pra você é assim...
Você conheceu essa pessoa, logo depois se apegou. O apego virou paixão, depois amor e aí você toma um tiro nas costas e simplesmente se deixa cair no chão em posição fetal e chora...
O tiro dói, abriu-se uma ferida enorme... A dor é tão intensa que você começa a não ver mais as coisas direito e a se perguntar onde foi que errou. Seu coração entra em um luto que, ao seu ver, será eterno... Pelo menos, por enquanto.
O luto dura alguns dias, semanas e, às vezes, meses... Então, em um dia, do nada, você abre os olhos e começa a ver o Sol de novo. O escuro dá lugar a uma luz interior que você nem sabia que existia. E você se vê bem de novo, se vê curado e forte novamente!
Você olha pra trás, lembra de todas as lágrimas que derramou e jura pra si mesmo, novamente, que nunca mais vai gostar de novo.
E em uma noite, você está no balcão daquele clube, o som está alto e a sua música favorita começa a tocar, você pega a cerveja e se apressa pra ir até a pista de dança, quando de repente esbarra com uma pessoa, e o sorriso dessa pessoa é encantador. Junto com o pedido de desculpas e a cerveja derramada, você recebe um convite para dançar. Vocês dançam e logo depois já estão em um canto escuro se beijando. Trocam números e a história começa de novo... Você se apega, se apaixona, ama, tudo acaba e então você sofre de novo. E depois chega aquele mesmo dia em que você volta a ver o Sol... E isso se repete, até que você finalmente encontre alguém de verdade e não apenas “esbarre” nesse alguém.
O grande lance é nunca deixar de viver, nunca se fechar pro que pode acontecer ou pros beijos que você pode dar, afinal, que outra maneira de saber quem é a pessoa certa, além de se jogar? No fim de tudo, é como diz Guimarães Rosa: “Viver é um rasgar-se e remendar-se.” Rasgue-se, caso seja preciso e, depois, se remende, mas não deixe de viver!