Valores
O pai iria levar o filho para ver um jogo de futebol. Seria a primeira vez do menino num estádio de futebol. Era o clube da sua paixão, paixão esta que tinha lhe sido transmitida pelo pai. O menino estava muito ansioso para o evento. Enquanto o pai o ajudava a vestir a camiseta do clube, repassava as orientações de segurança. O pai colocou um agasalho neutro por cima para evitar qualquer problema no caminho. Os olhos do menino brilhavam e sua felicidade parecia até ter cheiro. Uma vez acomodados dentro do estádio o pai sentiu um alívio daquele estresse do caminho. O estádio estava cheio. Era um jogo decisivo. Na outra torcida uma história parecida se repetia com um pai e seu filho.
Num determinado momento do jogo o juiz marcou um pênalti e muitos jogadores foram em cima do juiz contestando a marcação e vários até o agrediram. Dirigentes também entraram em campo querendo agredir o juiz. O juiz expulsou três, apesar de ter recebido agressões de quase todo o time. Depois de muito tempo a partida pode ter sequência com a cobrança de um pênalti que não foi convertido. Na sequência o time com bem menos jogadores em campo conseguiu fazer um gol e acabou saindo vencedor daquela partida. De um lado um pai exaltava o heroísmo do time que venceu mesmo com menos jogadores em campo, do outro sobrava a desolação e o choro da criança.
Uma pergunta inocente se repetiu naqueles meninos que estavam assistindo o jogo junto com o seu pai:
-Pai ele não deveria ter expulsado todos os que bateram nele? - Em uma das crianças o pergunta veio entrecortada de soluços. A resposta veio diferente dos pais. Movidos pela emoção, enquanto um chamava o juiz de ladrão e confirmava o entendimento do filho. concordando que todos deveriam ter sido expulsos o outro dizia para seu filho que isto não importava e que o time não tinha culpa de um eventual erro do juiz.
Valores são passados todos os dias para os nossos filhos. Mesmo num comentário.
No dia seguinte os meninos, que por acaso eram colegas de escola se encontraram. Enquanto um "zoava" o outro disse:
-É, mas se o juiz fizesse o certo meu pai falou que aquele jogo não poderia ter continuado, pois caso o juiz expulsasse mais um não poderia dar sequência no jogo.
O primeiro menino retrucou dizendo “que o choro era livre” e que o time dele não tinha nada a ver com erros da arbitragem. Assim o que iria para a história seria a vitória heróica de um time com bem menos jogadores em campo.
Pode até ser que a história dê uma versão daqueles fatos que exaltem o heroísmo daquela vitória. Concordo que normalmente a história é escrita pelos vencedores, mas valores não têm a ver com “vencedores e perdedores” e sim com “certo e errado”. Neste sentido alguém perdeu no dia daquele jogo. E não foi o menino que chorava.