O QUE DIRIA MACHADO?

Tempos estranhos..! Exclamou uma personagem de Machados de Assis num dos contos dele em que dentro do roteiro registra a passagem do Brasil de uma sistema monárquico para um sistema republicano.

Tempos estranhos digo eu agora (uma personagem real), não com o gigantesco talento e inteligência de Machado, mas com a certeza de estar vivendo um momento importante da história brasileira moderna.

Ora..!! Diria um dos narradores da arte universal machadiana, se agora estivesse contando fatos cotidianos que talvez não estivesse de acordo com o que ele entendesse como evolução.

Tempos estranhos..!! Escreveu Machado de Assis ao constatar que na repartição publica, na época, o servidor publico, sem nenhum pudor, trocava o retrato do rei na parede pondo no lugar o retrato do Marechal indicado a presidente, ao tempo que o povo sequer sabia que havia sido instituída a republica inspirada pelo movimento iluminista da época.

Ora, por que digo agora tempos estranhos?! O que vou dizer a seguir pode não agradar boa parte dos leitores mas o direi assim mesmo, pois essa é a minha vontade e dever como escritor formulando uma crônica.

O registro de Machado foi seu olhar politico dentro de um conto mostrando o cotidiano comum da época contemporânea a ele, e o que direi aqui é um olhar politico contemporâneo a mim. Machado registrou de forma superficial a interrupção abrupta da monarquia num golpe militar depondo e impondo um asilo politico ao monarca e a todas as pessoas ligadas a ele. Hoje, desde 2015, vivemos algo semelhante.

Tempos estranhos, e vou dizendo logo que sou ideologicamente socialista, e o estranhamento do qual eu falo é o fato de que depois de trinta anos da redemocratização que tirou o Brasil de um período igual de uma ditadura militar e que depois, em 2002 o povo, no voto, estabeleceu um governo progressista que por doze anos consecutivos desenvolveu projeto políticos e programas sociais consolidando oportunidades aos indivíduos que formam a massa do mundo do trabalho brasileiro que desde a instituição da república nunca tinha ganho nada de substancial dos governantes sempre oriundos das elites nacional.

Foram doze anos de crescimento de distribuição de renda garantindo melhor qualidade de vida a milhões de pessoas de uma faixa social que vivia na pobreza desde os tempos da proclamação da república, e que deveriam ser ampliados e definitivamente consolidados pelos próximos doze anos, mas esse ciclo social virtuoso foi interrompido de forma abrupta por um golpe midiático parlamentar jurídico, em 2016, que de forma violenta tirou do poder um governo legitimamente eleito e pôs no lugar a chapa e os projetos políticos conservadores rejeitados por 54 milhões de pessoas nas urnas em 2014.

Vale registrar aqui o que Machado de Assis jamais teve coragem de registrar no seu tempo; que o império foi derrubado apenas por que o imperador da época desenvolvia projetos para implantar uma série de programas sociais e de avanço tecnológico que promoveria uma transformação social no conhecimento democratizando a educação promovendo a ciência e a tecnologia e elevando o status da ralé e da elite a níveis europeus. Mas as oligarquias de época não quiseram colaborar com esse projeto progressista e por isso num golpe militar interromperam os planos de evolução do imperador impondo um plano de retrocesso conservador.

Como lá no tempo de Machado, agora o povo também não compreende muito bem o que está acontecendo, mas por instinto esperam o dia da eleição para tentar reverter o quadro de retrocesso criado pelo golpe das elites conservadoras que pelo que vejo não temerão patrocinar o caos para tentar se manter no poder.

O que diria Machado de Assis hoje eu não sei, mas o que digo eu agora eu sei: -Canalhas!-