Assim ou ... nem tanto. 149
Batalha
A mão que me estendeu era grande, forte e grossa, de pele áspera. No fim da mão havia um homem simples que me olhava como se eu fosse de longe, de outro mundo, de onde nunca chegam rigores de frio nem acentos bravos de calor. Veio solidário dizer de ruas, praças e caminhos. Percebeu-me perdido e mais que ajudar um estranho quis saber do mundo de onde vinha, lugar de vontades satisfeitas, de boa comida, de vida bem mais mansa que abrir valas onde correm cabos, tubos e fios. Valas, diria, onde suspeitava que guardavam segredos de Estado, necessidades urgentes, benefícios para bons e maus. No mais, confessou, era tudo trabalho e, acostumado, já tinha convencido as costas e os músculos todos a bem cumprir vozes e mandos desde que claros. Fazer fazia mas os mapas não lia. São outras letras, risca-os o engenheiro e vê-os amiúde para confirmar os gritos de “por aí não que dás cabo da conduta". E ele parava. Enxugava a testa e o resto do rosto, cuspia nas mãos para aquietar os calos e recomeçava. Hoje está tudo parado por ser o dia do Município. Banhou-se no tanque das regas e secou-se ao sol. Quando entrou nu pela porta da cozinha viu a roupa lavada, as calças novas com o festo bem vincado, as peúgas sobre o banco e ela, Maria, já puxava pelo brilho dos sapatos cambaios. Saiu sozinho que a mulher não aturava discursos e a Banda ouvia-a de casa sem precisão de os ver, meninos e meninas, poucos velhos, trajados de azul. Bem demais os sabia, rezou começando a fazer o almoço. – Chegámos. Entre por aquela porta estreita e vê logo as Capelas Imperfeitas. Procure o Rei Dom Duarte, é o que tem o nariz remendado de novo. Eu sigo para o café. Também não acerto com discursos.