LÁGRIMAS DE PALHAÇO.
Lágrimas…
"Lágrimas que rolam no rosto e revelam desgosto de um grande mal, lágrimas que trazem saudades, da realidade que não volta mais"...
Essas palavras fazem parte de uma música muito conhecida no meio religioso evangélico, música antiga, porém, verdadeira e atual, e, belíssima. O autor parece dialogar diretamente com a alma e o coração, não só ao coração das pessoas da época em que a música foi escrita, o refrão também fala, e porquê não dizer a todas as pessoas de qualquer época aliás. Se bem analisarmos nosso presente século, com tudo o que já aconteceu, com tudo o que ainda está acontecendo, e principalmente com tudo o que ainda vier a acontecer, é mesmo compreensivo cada lágrima à rola de cada face anônima por aí, cada lágrima que se perde - e olha que não são poucas - formam rios infinitos de dor, medo, angústia, aflições e incertezas bombardeando o coração, roubando-lhe a paz, trazendo a nossos frágeis telhados tempestades tão fortes quanto avassaladoras. Não é exagero dizer que no momento em que escrevo essa crônica, rios de lágrimas já nasceram por esse Brasil afora, vou ser ousado em dizer mais, que tais rios não cessaram tão facilmente. Não se apaga lágrimas com borrachas, e não dá para ignorá-las simplesmente.
Permita-me, caríssimos amigos leitores, explicar-lhes o motivo desse assunto tão lastimoso. Não era sobre isso que eu queria escrever. No decurso da semana, procurando por um assunto para crônica do domingo, sem sucesso ainda, pois já figurava uma tarde de quarta-feira e nenhuma ideia veio a tona, comecei a ficar inquieto. Na quinta de manhã eu tive que sair, ir a outro bairro da minha cidade, entrei no coletivo, acomodei-me na poltrona dura de plástico. A certa altura, quando paramos no semáforo em uma grande avenida, do outro lado, estava um moço vestido de palhaço fazendo malabarismos com bolinhas, moço muito agiu, sorria bastante. Alguém que estava atrás teceu o seguinte comentário:
- Eu queria ser como esse palhaço aí, sempre rindo, sempre feliz, olha só Maria...
- Palhaço também chora viu - respondeu quem estava ao lado - existe muita tristeza até no mais sorridente dos palhaços - completou ela.
- Verdade né, mais nem parece...
Achei muito profundo aquela pequena análise de Maria, verdadeira, lembrei-me imediatamente da música mencionada no início da crônica, e comecei em uma profunda análise interna, pessoal, da minha própria vida, e outra análise externa, das muitas vidas alheias, vidas vividas entre as lágrimas e os sorrisos, entre a alegria e o desespero. Um dia nós estamos felizes, sorridentes, corremos e brincamos, no outro, choramos, e angustiados nos escondemos de nós mesmo. Mais humano do que isso, 'impossível', se você é assim, é assim que deve ser amigo, afinal, é nossa humanidade transformando a vida.
Todos nós choramos as mazelas da vida, e de repente, entre uma lágrima e outra, nos vemos parados em um semáforo qualquer, e logo, a lágrima pulsante é abafada pelo sorriso do palhaço malabarista, que sorri, embora este sorridente artista de rua, escondem por baixo da pintura de seu rosto, suas próprias lágrimas e dor. Então eu percebo, que palhaço também chora.