SAIA DA JANELA, FILHA!
Anos atrás a moça da janela, via o moço passar apressado com um olhar imberbe que nunca a via. Mas ela nunca o perdia passar de segunda a sexta, e cada vez mais se escondia com medo de ser vista. Chegou o dia que o via pela fresta, tamanho era o medo de ser flagrada.
E junto a ele, uma pequena multidão de outros jovens no mesmo caminho. Era o caminho da estação de trem e os trabalhadores. Vez ou outra alguém lhe sorria, por isso ia diminuindo a fresta. Seus olhos já quase não alcançavam ninguém. Nem o senhor que vendia papagaios, ou os meninos que vendiam picolés. Não via nem a moça cega de um olho que vendia flores.
Estava à beira de ficar mais cega que ela quando abriram a janela lhe assustando. Era o padre Nico. – Saia desta janela, filha! Vamos dar uma volta. De tanta surpresa entendeu como uma ordem divina e saiu. Lá fora havia crescido uma goiabeira, uma construção, e na entrada para a estação havia até corrimões.
O moço que andava apressado, agora tinha uma aliança na mão e o via sorrir pela primeira vez. Abraçava a menininha que correra ao seu encontro. Em seguida o viu beijando uma moça. Era cega de um olho! A que vendia flores.