Sinto falta de teus olhos: Mi mancano i tuoi occhi
Perdi o fôlego. Sim. Eu fiquei desnorteado. Como pode um olhar rasgar a alma? Foi exatamente assim que me senti: dividido pelas lâminas afiadas da espada de Atena. Obviamente que passamos pelo crivo de olhares diariamente. Olhar de compaixão, olhar de renúncia, olhar de repugnância, olhar de recriminação, de descriminação, olhar de aceitação, olhar de acolhimento. Mas, aquele olhar me cortou ao meio. Sua espada me alcançou. Ainda sinto a divisão genuína de minha alma e de minha carne. Óbvio que quem possui um poder assim nunca estará plenamente consciente de que domina tal habilidade. Talvez seja uma arma letal. Afinal, um olhar de desprezo pode matar a auto-estima. Este caso, porém, é algo minimamente notório de recusa ou ignorância de minha parte. Recusa por evitar afirmar que fui pego de surpresa e expus minhas fraquezas e ignorância por desconhecer totalmente a força de um olhar afiado em minha direção. Penso que já devo ter provocado isto em alguém. Acho que todos já fizemos isto de alguma forma. Mas, ser vitimado por um olhar? Isto é confrontante e inquietante... Tentarei descrever. Senti que era despido a cada vez que identificava que ela estava olhando fixamente para mim. Evitava cruzar o caminho daquela arma viva. Penso que seja um caminho de invencionices minhas, já que nunca tinha me apercebido que poderia encontrar um olhar como aquele em minha direção. Afinal, olhar por olhar, temos e vivemos e nos apercebemos disto quase sempre. O problema maior nunca esteve relacionado com aquelas duas Íris lindas. A conjectura do que aquele olhar queria me dizer, sim. Isto me incomodava e era, ao mesmo tempo, alentador por trazer paz, harmonia e sutiliza. Posso definir que foi uma mistura de um tornado com a visão pacífica de um por do sol em uma observação solitária e única. Mas, passou e me deixou em pedaços. Sei exatamente como os Egípcios se sentiam quando olhavam para Hórus. Era assim que me sentia todas as vezes que meu olhar cruzava o caminho do olhar dela. Acredite! Ali, parada, Afrodite! Dois olhos penetrantes que, por mais que eu teimasse em não olhar, havia um grito silencioso de petição oriundo de minha voz interna que clamava: Fique estático! Acho que também era a voz dela. Mesmo ela em silêncio, deu-me uma aula de Hipnose! Se eu pudesse escolher uma palavra para me definir diante daquele lindo par de lentes naturais eu escolheria uma só: nu. Ela me despiu. Conseguiu destravar portas e trancas que nem eu sabia que existiam. As lâminas afiadas das pupilas fixadas em mim uivavam como animais famintos. Sim. Aquele olhar foi o meu capataz: perdi a cabeça. Mesmo imparcial e estático e incólume por fora, por dentro, só ruínas de uma briga constante de mim comigo mesmo. Tudo aflorou! O vento forte causado pelo bater das pálpebras, em milésimos de segundos, destruiu minha fortaleza. Virei andarilho e cego dentro de meu próprio Mundo, desconhecendo-me totalmente e me reconhecendo igualmente por completo na força daquelas duas luas brilhantes: meu lar, minha selva, meu abrigo, minha chuva e meu frio: teus olhos. Minha fogueira! Queimaduras que aqueciam a alma quieta que dormia profundamente, pois que já pensava: vivi o bastante! Bestial maneira de pensa! Imaturo! Sim! Nasci novamente pelos cem olhos daquele olhar monstruoso, tal qual o Argos Panoptes que, sempre deixava cinquenta olhos abertos enquanto os outros cinquenta descansavam em mim. Sim! Ela insistia em manter seu olhar desconcertante, desfiando cada centímetro de minha pele, cada pelo de meu corpo; carne viva da dor que me afligia e me mostrava que a dor causada por um olhar é a dor de alívio e alegria simultaneamente. Naquele momento, nasci. Parto de um olhar que me maltratava e me alentava; os segundos que intercalavam os olhares faziam nascer à estrondosa saudade que me forçava a olhar novamente para o lugar no qual encontrei a exposição que me convenceu de que minha fraqueza reside no par de olhos que nunca esquecerei. Sem fôlego, me perdi! Lamentavelmente, chegou o momento da despedida. Eu tinha que deixá-la ir. A dor que me fez estático, me impulsionou ante a pulsão de vida que senti em todos os minutos que meu olhar cruzou com o dela. Artemis residia em seu olhar. Todavia, tal vela que se apaga, voltei a minha escuridão quando ela partiu. Saiu! Despediu-se! Sorriu! Deixou um longo rastro de caminho de luz que anunciava e sinalizava que eu saberia reconhecer o caminho de seu olhar já que nele, por vários segundos eu nasci, morri, revivi e matei minhas próprias convicções. Mi mancano i tuoi occhi. Sinto falta de teus olhos. Espero me reencontrar neles em breve e reviver a juventude de Hebe que me aflorou a vida pelos caminhos de tuas Íris.