Uma Janela para a Palavra

Uma Porta para o Amor de Deus.

Lá fora no mundo

As idolatrias se encobertam

Das névoas frias de um anoitecer chuvoso.

Lágrimas descem de um rosto desfigurado.

Os pingos da chuva acompanham juntas o percurso sinuoso

Entre os olhos avermelhados e o queixo que bate, sem parar.

Eu contemplo esse cenário macabro

Olhando pela minha janela do terceiro andar.

Num mundo cheio de arranha-céus

Os miseráveis aumentam dia a dia.

Olho-me no espelho do meu quarto e pergunto-me

Robertson, você teria coragem de ir lá fora armado da Palavra

E salvar uma alma?

Um vento gelado espalha os meus poucos cabelos.

A maioria deles levados pela minha experiência de vida.

A minha atenção se volta para a televisão e o reinício do jogo de futebol.

Provável que aquele maltrapilho seja acobertado pela morte nessa noite.

...É gooollllll!Golaço! Pulo do sofá, dou duas voltas no sofá.

É campeão! É campeão!

Lembro dos remédios e comemoro com uma cerveja sem álcool.

Vou dormir alegre, coração saltitante.

Faço uma oração de agradecimento pelo dia, pelas vitórias.

Pela proteção a todos os meus.

Lamento os miseráveis, fazer o que?

Madrugada plena.

A chuva se foi e o vento gelado, também.

Sem conseguir dormir retorno para a Janela.

Vejo apenas um corpo inerte numa sombra da marquise.

Difícil saber se está vivo.

De repente, o luar!

Linda a lua quando se deixa ver vistosa, iluminada pelo sol.

O miserável se levanta e percebo que ele a contempla também.

Em lugares e situações tão diferentes contemplamos o mesmo luar.

A mesma luz prateada.

O retorno suave do vento nordeste.

Por momentos sinto-me como um velho amigo dele.

Eu volto ao espelho e ensaio um enredo de palavras

Que estão na Bíblia em minhas mãos:

Colossenses

4,5 "Andai com sabedoria para com os que estão de fora, remindo o tempo.

4,6 "A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para que saibais como vos convém responder a cada um."

Volto à cama mais consolado, amanhã levarei essa Palavra andares abaixo. Ou ao menos eu tentarei.

Tomo um rivotril, fecho a Bíblia e durmo tranquilo até o amanhecer.

O sol me acorda sorrindo, raios de sol, coisa mais bela não há.

Bocejando vou até a cozinha e preparo um delicioso café.

Ouvindo as últimas notícias na televisão, coloco duas fatias de pão na torradeira e vou até a Janela.

Lá embaixo da marquise há agitação, pedestres parando, policiais e paramédicos em movimento.

Após alguns exames cobrem com um Manto o corpo do miserável.

Tomo o meu café com a geleia de abacaxi que comprei ontem na panificadora da esquina, que diga-se de passagem, tem ótimo atendimento

Antes de sair, volto à Bíblia, leio mais um versículo.

E oro pelos meus: proteção, amor, carinho, prosperidade, saúde para todos!

Lembro do miserável com pena, amanhã haverá outro no seu lugar sob a mesma marquise.

* Deixo esse texto de forma belicosa para mim mesmo.

Robertson
Enviado por Robertson em 16/08/2018
Reeditado em 16/08/2018
Código do texto: T6421192
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